sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Matemática Errada

Trinta e sete (37) abusivos graus cozinhando-a sem nenhum pudor.

Quarenta e duas (42) crianças zombeteiras remexendo-se em seus assentos, enquanto ela, no quadro, resolvia problemas matemáticos.

Sessenta e quatro (64) polutos seres humanos espremendo-a lascivamente no ônibus.

Um (01) lugar, afundado no colchão, ao seu lado. Vago.

Os números não formavam uma operação matemática. Mas Elizete queria rabiscá-los com caneta vermelha. Um (01) imenso X.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A miséria do autor

            A tela branca. As letras, que iam pipocando, lentamente e, depois, sendo apagadas, todas de uma vez. Essa rotina lhe dava ânsia. Ficar ali, horas a fio, costurando idéias que não conseguia desenvolver. Habermas, Glauber Rocha e quem mais viesse. Nada. Não dava liga.
            Estava cansado.
            E seu vulcão interno em atividade. Quase trinta e oito graus. Garganta arranhada. Inflamação e ânsia. Sonhava em pular numa banheira com gelo. Quem sabe, com o choque térmico, encontraria a inspiração. Já de tão longe perdida. Uma tarde de trabalho para pingados parágrafos mal alinhados.
Literariamente, a mesma tragédia. Um blog às moscas. Sem rumo. Atualizações. Sem razão de ser.
            Um banho frio, por que não? Qualquer coisa que aliviasse sua febre. Já que sua miséria interna, essa não tinha remédio.
Não há paracetamol que resolva a vida de um mal escritor.
Que persiste, Deus sabe porquê.