Um dos anúncios que mais abalaram o mundo da música em 2011 foi a parceria entre Metallica e Lou Reed. Inusitado encontro de duas referências em estilos do rock que, oficialmente, trilham caminhos diferentes. São gerações distintas de músicos. Os veteranos se encontraram em uma apresentação no Rock in Roll Hall of Fame, em 2009, e, sabe lá porque cargas d’água, resolveram desenvolver o trabalho em conjunto.
Enquanto notícia, o álbum foi um evento inusitado. Mas, lançado Lulu, resta saber como classificar sua relevância musical. Pois um encontro dessa magnitude é, antes de tudo, uma associação de marcas. Lou Reed® & Metallica©. É impossível pensar as duas partes sem as referências prévias que temos delas. É o mal dos “projetos paralelos”. Raramente tornam-se a banda predileta de alguém, ou ultrapassam os fãs dos “projetos oficiais”.
Lulu está sendo massacrado por críticos e fãs, principalmente os do Metallica. Quanto mais altas as expectativas, maior a decepção. Porém, antes de crucificar os “tios”, é preciso analisar o caso. Quase todas as músicas foram compostas inicialmente por Lou Reed, ao menos a linha vocal. Lulu é muito, muito mesmo, mais um trabalho dele do que da trupe de James Hetfield. Deve ser entendido assim.
E pensemos com parcimônia: Lou Reed é um literato/ músico/ artista. Seus álbuns vão de ícones essenciais à viagens mal compreendidas, segundo os próprios fãs. Sobre Lulu, certamente ele pensou: “ficaria legal se eu colocasse um fundo com guitarras pesadas nessas canções!” Então, ele chamou uns amigos para fazerem isso. No círculo de amizade dele estavam os “meninos” do Metallica. Coube ao nome mais forte do heavy metal o papel de coadjuvante nesse álbum.
Musicalmente, Lulu não consegue dar ao ouvinte algo que extravase a curiosidade. Não é um álbum apaixonante. Lou Reed recita o tempo todo. As letras e o tom de voz de narrador de contos do Allan Poe é o que ele oferece – quem não gosta disso, pode passar longe desse lançamento. Já o Metallica está, na grande parte do disco em jams preguiçosas, que não inovam em nada. Lars Ulrich, em vários momentos, parece estar prestes a emendar “Enter Sandman”. Coisas do costume.
Os melhores momentos são aqueles em que o Metallica entra na onda do Lou Reed e deixa de ficar apenas “martelando” ao fundo. Eu destaco “Cheat on Me” e “Frustration”, com uma introdução mais à altura da banda. O primeiro single, “The View”, é uma boa amostra da dinâmica de Lulu. A música ganhou clipe de Darren Aronofsky que pode ser conferido aqui.
Lulu tem mais chances de agradar aos fãs de Lou Reed. Faz mais sentido dentro da discografia dele. Mas, ao que tudo indica, o álbum ficará no limbo da repulsa por alguns bons anos. Depois disso, talvez alguma revisão, com outros parâmetros, leve-o a uma apreciação mais positiva. Isso acontece. Mas, por agora, Lulu soa como um trabalho infinitamente menor ao evento que ele é – uma parceria histórica.
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