quarta-feira, 26 de setembro de 2012
Amargo como a morte
Mal
tinha percebido que o dia começara, quando sua boca foi inundada pelo líquido
amargo. (...) http://manufatura.blogspot.com.br/2012/09/amargo-como-morte.html
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
Discografia comentada: “Disclosure” (2012), The Gathering
Quando, em agosto de 2007, a
vocalista Anneke van Giersbergen deixou o The Gathering, o chão se abriu para
os raros fãs da banda. Pois não era uma simples troca de integrante. A entrada
de Anneke marcou a mudança no som do grupo, que progressivamente foi
abandonando estilos mais pesados (doom/ gothic metal) para sonoridades mais
atmosféricas, que a banda denominou trip
rock (alusão ao trip hop de
grupos como o Portishead).
Mais do que esse marco
simbólico, Anneke se tornou a “cara” do The Gathering. Com sua bela voz e o assombroso
carisma, a cantora não poderia ocupar lugar diferente. Foi tão protagonista na
banda que resolveu dar seu vôo solo. Ser seu próprio rosto.
E agora, cinco anos depois,
podemos ver que o rompimento, embora dolorido aos entusiastas do grupo, foi
honesto. Everything is changing,
terceiro álbum solo de Anneke (os dois anteriores usaram o nome Agua de Anique
como transição) indica que a cantora está convicta em flertar com o pop. Vide o
clipe de "Take me Home".
Já o The Gathering lançou
nesse mês seu segundo trabalho pós-Anneke, Disclosure.
Esse álbum teve maior participação de Silje Wergeland (ex-Octavia Sperati), norueguesa
que assumiu os vocais. O anterior, West
Pole (2009), ela encontrou praticamente pronto. E Disclosure é um atestado de que o The Gathering segue fiel ao seu trip rock, sem soar repetitivo no
caminho que escolheram.
No álbum novo, os holandeses liderados
pelos irmãos Hans e René Rutten incorporam mais características do rock
progressivo, outro rótulo que costuma ser utilizado para definir sua
sonoridade. Não o progressivo de intermináveis solos virtuoses, é bem verdade, mas
na exploração da capacidade sensorial da música.
“Paper Waves”, apresentada ao
público brasileiro no show da banda em julho de 2011, abre o disco. É uma faixa
eficaz como abertura do disco, mostra que o que virá a seguir é promissor. Os
saudosistas podem até sentir falta de Anneke, mas Silje cumpre bem a árdua
tarefa de substituí-la. Sobretudo por soar bem e em seu próprio estilo.
“Meltdown”, em seguida, é a
música mais ousada do cd. Além do vocal masculino (estreia do tecladista Frank
Boeijen na função), algo que não ocorria desde “A Life All Mine”, de Souvenirs (2003), a música inicia com
uma dinâmica bastante moderna. Porém, pela metade, ela toma rumo mais
introspectivo. De fato, Disclosure é
um álbum de músicas longas e com variações internas. “Heroes For Ghosts”,
quarta faixa, que teve um clipe lançado no ano passado, dura mais de dez
minutos. Épica, mostra uma banda entrosada.
“Paralyzed”, terceira música,
é a que mais se aproxima de uma balada no disco e, de fato, tem potencial para single. Conta com uma bela melodia vocal
e um acompanhamento bem digno.
Disclosure tem
também uma faixa dividida, “Gemini I” e “Gemini II”, essa encerrando o cd. “Missing
Seasons” talvez seja a canção que menos chama a atenção no cd. “I Can See Four
Miles” reforça que, mais do que faixas grandes, temos músicas grandiosas no
décimo álbum de inéditas do The Gathering.
O supracitado show dos
holandeses em São Paulo, no ano passado, mostrou que o impacto gerado pela
saída da ex-vocalista afetou o número de seguidores do grupo. O público que
compareceu naquele domingo foi consideravelmente menor que aquele do outro show
da banda no Brasil, em 2006, ainda com Anneke – o tamanho do local onde os eventos
ocorreram também transmite essa realidade, do Via Funchal para o Hangar 110.
Disclosure nos
faz concluir que, junto da separação entre os integrantes, também ocorreu uma entre
seus seguidores: foram-se os(as) tietes de Anneke, ficando os verdadeiros fãs
da banda. Pois musicalmente é inegável que o The Gathering mantém sua
identidade. Com mudanças, claro, pois trata-se de uma característica de sua
trajetória. Mas eles seguem explorando as possibilidades do trip rock. Seus fãs da banda podem ser
poucos, todavia são convictos de serem uns privilegiados.
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