Depois de uma espera de sete
anos, os fãs de Fiona Apple receberam em 2012, enfim, o sucessor de Extraordinary Machine. E o novo álbum já se impõe no título, um poema escrito
pela cantora/ compositora: The
Idler Wheel Is Wiser Than the Driver of the Screw and Whipping Cords Will Serve
You More Than Ropes Will Ever Do.
Mas eu pergunto: por que esperar por Fiona? A indústria musical despeja
pencas de cantoras com vozes singulares e influências de jazz e rock
alternativo. Eu poderia enumerar umas cinco delas se quisesse polemizar. Surgem
com uma aura cult e, contraditoriamente, tornam-se populares. Para
depois sumir.
Nos anos 1990, quando surgiu com Tidal (1996), Fiona Apple podia
ser compreendida como um caso desses. Era claramente um achado musical. Com
apenas 19 anos, ela lançava um álbum elogiado e repleto de músicas marcantes.
“Sleep to Dream” e “Criminal” mostravam uma cantora com personalidade e uma
admirável voz contralto. Foi hit, álbum platinado e vencedor de Grammy.
Em When the Pawl... (1999) o sucesso não foi o mesmo, mas Fiona
manteve a qualidade. E nos anos seguintes, ela sairia dos holofotes,
mostrando-se um caso sincero de inadaptação ao mainstream. Pois existe o
glamour de “não se adaptar à fama”. No caso da cantora, porém, o
incômodo com a exposição midiática é real.
The Idler Wheel... é, provavelmente, o melhor álbum de Fiona
Apple, ainda que seja uma afirmação um tanto pessoal. É um cd homogêneo, as
canções, apesar de compostas ao longo do hiato de sete anos, são bastante
coerentes entre si. Ele é mais cru do que os anteriores, sem arranjos
orquestrais ou batidas dançantes, por exemplo. De um modo geral, as músicas são
construídas na base voz + piano + percussão.
“Daredevil”, em seguida, confirma que escutaremos a voz de Fiona em
carne viva em The Idler Wheel... . “Valentine” seria uma balada, mas
baladas não combinam com a cantora e o refrão deixa a música realmente
interessante.
Mais à frente, com “Left
Alone”, Apple é feroz e brada “how can I ask anyone to love me/ when all I do
is beg to be left alone”. Para muitos,
é incômodo ver a atual magreza da cantora, com olheiras que engolem seus olhos
azuis. Não deveria. A vida, convenhamos, não é lá muito fácil de digerir. É
milagre que todos nós não tenhamos distúrbios alimentares.
É um álbum curto. São 10 músicas e 42 minutos. Pouco, em números, para
tanto tempo de espera. Porém, The Idler Wheel... é intenso e não há
canção nele que se destaque negativamente. Pelo contrário, é preciso ressaltar
a beleza de “Werewolf” e “Anything We Want”.
Assim, fica a resposta para a pergunta lá no início. Espera-se pelos
retornos de Fiona Apple porque eles não decepcionam. Seu ritmo lento de
produção não esconde uma artista em decadência. Pelo contrário, parece ser uma
condição necessária para que ela produza álbuns sinceros. E que, ao que tudo
indica, valem mais do que quase tudo que foi feito na música pop de 1996 para
cá.
*Em tempo: foram anunciados três shows da Fiona Apple no Brasil. A novaiorquina
passará por Porto Alegre (27/11), São Paulo (29/11) e Rio de Janeiro (30/11).
Nenhum comentário:
Postar um comentário