terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Sem título #4

Nas sextas-feiras, o marido chegava, tarde da noite, exalando álcool barato por todos os seus poros. E Glória tinha que ficar lá, passiva, em suas investidas sexuais. Era mais seguro. Até porque ele dormiria durante o ato, mesmo.

Olhando para os rabiscos que as infiltrações deixavam em seu teto, a esposa fazia as contas do mês. Janeiro era impiedoso. A farra fresca na memória do fim do ano era trocada pelo cinto apertado com os impostos e gastos escolares.

O marido já roncava.

Glória havia lido que as mulheres têm maior facilidade em fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo. Fazia sentido.

3 comentários:

  1. São tantas ainda as mulheres que se submetem a relações com homens que as maltratam de alguma forma. O narrador diz que Glória achava "mais seguro" não resistir às investidas sexuais. O pior é que muitas vezes o medo de largar o companheiro é justificado, haja vista espancamentos, assassinatos. E o álcool não ajuda. Se as mulheres conseguem fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo, podem também largar homens que as fazem sofrer. Não dá pra saber se este é o caso da Glória, mas, em contextos extremos, nem que seja recorrendo à polícia.

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    1. ... triste... muito mais triste a história e seu realismo do que belo o texto - e olha que o texto é belo.

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