Nas sextas-feiras, o marido chegava, tarde da noite, exalando álcool barato por todos os seus poros. E Glória tinha que ficar lá, passiva, em suas investidas sexuais. Era mais seguro. Até porque ele dormiria durante o ato, mesmo.
Olhando para os rabiscos que as infiltrações deixavam em seu teto, a esposa fazia as contas do mês. Janeiro era impiedoso. A farra fresca na memória do fim do ano era trocada pelo cinto apertado com os impostos e gastos escolares.
O marido já roncava.
Glória havia lido que as mulheres têm maior facilidade em fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo. Fazia sentido.
São tantas ainda as mulheres que se submetem a relações com homens que as maltratam de alguma forma. O narrador diz que Glória achava "mais seguro" não resistir às investidas sexuais. O pior é que muitas vezes o medo de largar o companheiro é justificado, haja vista espancamentos, assassinatos. E o álcool não ajuda. Se as mulheres conseguem fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo, podem também largar homens que as fazem sofrer. Não dá pra saber se este é o caso da Glória, mas, em contextos extremos, nem que seja recorrendo à polícia.
ResponderExcluir... triste... muito mais triste a história e seu realismo do que belo o texto - e olha que o texto é belo.
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