Capítulo 1: Assumindo-se
Você não tem muita paciência com algumas particularidades
dos nossos pares da espécie humana. Não acorda esbanjando simpatia. Usa de
fones de ouvido como escudo para evitar diálogos gratuitos. Chegou ao cúmulo
de se identificar com a Xuxa no famigerado episódio do “Aham, senta lá, Cláudia”.
Sim, você é uma pessoa mal-humorada.
E o que nós queremos dizer é: tudo bem. Mesmo. Não há mal
nisso. Inclusive, negamos o teor negativo aplicado ao termo. O ideal seria
dizer que você tem um humor, digamos, diferenciado. E diferenciar é bom.
Qualquer filosofia de botequim dirá que as pessoas se
constroem a partir do reconhecimento que as outras pessoas têm delas. E seu mau
humor é um sintoma de anti-sociabilidade, um grito de independência do seu ser,
que não quer simplesmente “seguir a manada”.
Dessa maneira, o mau humorado não é nocivo à sociedade,
como tantos imaginam. Não. Precisa-se de gente que vá contra o óbvio. Senão o
mundo vira uma grande histeria coletiva.
Se isso não ajudá-lo a se sentir melhor com seu mau
humor, pense em você como um velinho rabugento em formação (a não ser que já
seja um idoso; aí você já é a realização). O que seria da humanidade sem esses adoráveis
senhores (as), sábios seres que chegam no poente da vida e compartilham seu
ceticismo conosco?
O mundo precisa dos seres mal-humorados. Mas talvez ele
não retribua como deveria. Você vai se sentir excluído por seu humor
diferenciado. Por exemplo, quando aquele conhecido mostrar o filhinho dele que
mal sabe andar, fazendo alguma “dancinha da moda” (coff, coff, “Ai se eu te
pego”). Você não vai achar graça. Lembrará que macaquinhos amestrados também
fazem isso. Temerá pelo futuro da criança. E vai se sentir o pior ser humano do
universo.
Mas você não é – ao menos, não por isso. Tem que ter
alguém para torcer contra o Barcelona. Ou que não goste de Beatles.
Para
você não se sentir tão solitário nessa tarefa, acompanhe os próximos capítulos
desse guia.
Eu torci contra o Barcelona ontem, mas gosto de Beatles e não vejo GRAÇA NENHUMA na tal da Maria Gadú.
ResponderExcluirLuis, nunca ninguém conseguiu me descrever tão bem!
Hahaha... Olha, Tiago, pelo retorno que estou tendo, a questão dos Beatles é a mais polêmica. Parece que não gostar dos 4 de Liverpool é um estágio plus do mau humor.
Excluira parte dos macaquinhos adestrados sempre sinto isso kkk, minha vocação para achar crianças os seres mais adoráveis do mundo é quase nula.
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