Envelhecer é realmente uma coisa horrenda. Sr. Oliveira demorou a aceitar esse fato. Na juventude, ele esbanjava vitalidade. Tinha o físico de um touro e uma disposição respeitável.
Mas quando foi inevitável reconhecer que o peso do tempo em suas costas já era visível, ele se esforçou para lidar bem com isso. Afinal, foram-se setenta e sete primaveras. Não podia negar que o outono se aproximava.
Sr. Oliveira refugiou-se, então, na rotina pacata de um aposentado. Gostava de passear com seu cachorro pela manhã. Iam até a padaria, desfrutando o frescor das seis horas. O dia esbanjava o frescor nesse momento e as ruas exibiam tranqüilidade igual a do tempo de sua juventude.
Voltava para casa com os pães, o cachorro e o jornal. Ficaria a manhã toda folheando tranquilamente as páginas, comentando as notícias com a esposa e repreendendo o neto adolescente, que só acordaria depois das dez.
Em algumas manhãs, todavia, Sr. Oliveira ficava inquieto. Culpa de sonhos que periodicamente vinham perturbá-lo. Nada de novo, era o seu passado que vinha visitá-lo. Lembranças dos tempos em que sua patente militar precedia seu nome mesmo nas relações familiares. De subterrâneos, com umidades nas paredes e gritos de dor aterrorizantes ao fundo. Jovens barbudos em sua frente se negando a confessar. E ele os torturando. Pelo bem da pátria.
Sr. Oliveira não sentia culpa. De fato, até se orgulhava. É que aqueles gritos... Ele só queria que eles não fossem tão viscerais. E tantos. Tantos...
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