Minha
intuição sempre foi apurada em relação à música. Grande parte das bandas e artistas que
compõem o meu panteão foram percebidos com rápidas amostras. Por isso, poucas
decepções guardo comigo nesse tempo em que me tornei um apreciador musical, com
a dedicação que tal arte merece.
Com
Jeff Buckley não foi diferente. Ainda muito jovem, lá pelos treze anos, vi
pela primeira vez um vídeo dessa figura, por intermédio de Terence Machado e
seu Alto Falante. Na época, porém, meus ouvidos necessitavam de mais distorções,
assim como os homúnculos em Full Metal Alchmist necessitam de pedra vermelha.
Mesmo assim, lembro que a música, que não lembro qual era, me causou uma ótima
impressão, embora não fosse o que eu buscava escutar.
Guardei
o nome e a fidelidade ao programa da Rede Minas. Vi mais algumas vezes Jeff
Buckley nesse canal até o Kazaa e minha internet discada me
proporcionarem um maior contato com a obra desse compositor. E, até hoje, nas
minhas audições já não ocasionais, sinto o mesmo espanto daquela primeira vez.
Primeiramente, o mais óbvio, pela qualidade vocal. Será que conheço outros
vocalistas que atinjam agudos tão certeiros, prolongados, angustiados, sem
destruir o timbre de sua voz? Dificilmente. Jeff Buckley cantava com facilidade
melodias incertas que vão desde o suspiro de “I love you, but I´m afraid to
love you” em So Real, até gritos prolongados do refrão “Wait in fire” de Grace.
Só por isso, ele já seria um inigualável acréscimo à produção musical.
Entretanto,
ele acrescentou bem mais. Sua sensibilidade aliada de sua capacidade como
compositor fazem com que suas músicas sejam dotadas de uma carga de alto teor
emocional. Existem bons compositores que fazem música agradável. Os melhores,
porém, são aqueles que colocam um algo mais que dá vida à composição.
Justamente, a vida do artista. Por isso a importância da dinâmica interna
de suas músicas, com dedilhados leves na guitarra e distorções convivendo em
uma mesma música; ou o descontraído cover de Yard Of Blonde Girls e Everybody
Here Wants You em um mesmo disco. Dinâmica. É difícil encontrar músicas
melancólicas com variações. Talvez por isso eu não goste de Belle And
Sebastian. Nem afins.
Por
isso e muito mais, não consigo pensar em Jeff Buckley como mais um talento que
tenha surgido na música pop. Isso é impensável. Ele está em uma categoria muito
mais seleta, a de artistas que atingem uma profundidade muito além da do
convencional. Categoria que, com o perdão dos puristas que buscariam pares na
década de sessenta, ou algo do tipo, vejo amplamente desabitada.
Infelizmente,
escrever sobre Jeff Buckley implica esbarrar no tema da sua morte. Evento que,
penso, foi uma das maiores tragédias que a música já vivenciou. Afinal, morrer
afogado, antes de concluir os acertos do seu segundo álbum foi uma saída
triunfalmente romântica. Trágica, sobretudo. Com todo o peso que essa palavra
possui. Nem nisso o filho de Tim Buckley é superável.
Como
o fluxo do tempo é contínuo, um rio maldito correndo enlouquecido, completam-se
15 anos que Jeff Buckley morreu. Datas, quem precisa delas? Contar os anos que
se passaram desde que sua potente voz foi silenciada não ajuda a manter o ânimo
em estado aceitável. Consola pensar que suas músicas estão aí e outras pessoas
podem sentir o espanto que o clipe no Alto Falante me causou. Ao menos isso.
Como você mesmo disse datas, ninguém precisa delas. Ainda mais porque lembram que foi exatamente nesse dia que ia embora alguém tão tão único e singular.
ResponderExcluirMe dói pensar que ele foi embora, deixoum um vazio imenso, imenso. Que ninguém é capaz de ocupar.
Enfim, é sempre bom ver que ele ainda não foi esquecido e que sua voz e suas letras ainda tocam profundamente as nossas almas.
Espero que um dia ele saiba o presente que ele deu para o mundo;