Eram seis da tarde, mas a sensação térmica era
de, pelo menos, três horas a menos. Pela janela, raios de sol acertavam pai e
filho, deixando seus rostos brilhantes. Suor que escorria em gotas. O lanche
estava na mesa e os dois não comiam com muita vontade. Faltava disposição. Nem
os bravos são felizes no calor.
- Quando a mamãe chega?
- Mais tarde, filho. Hoje ela tem reunião.
O menino ainda vestia o uniforme escolar.
Brincava soprando o achocolatado com o canudo. E o pai observava. Deveria
repreendê-lo por brincar com a bebida, é o que sua mulher faria. Mas estava
olhando para seus pés. Agora eles já tocavam no chão, apesar de estar sentado numa
cadeira normal. Seu garoto crescera.
- Tenho. Mas é pouquinho.
Então, eles ouviram um canto. A televisão
estava ligada, dezenas de automóveis roncavam com seus motores pela rua e,
acima deles, havia um canto. E os dois se olharam:
- Vamos lá ver?
Foram. O canário estava perto, podiam escutá-lo
muito bem. Estava na casa do vizinho, sobre a antena de TV paga. O fim de tarde
sorria para eles, um singelo sorriso amarelo e de cabeça laranja. No mormaço da
cidade, o passarinho, do alto, era rei.
Pai e filho ficaram felizes ao ver sua majestade. E o
menino preparou a estilingada.
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