quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Flashes na Escuridão - Capítulo 4

4


A ausência e a escuridão


Por Fabrício Alves


A trajetória pela rua,
A espessura dos degraus na escada,
A disposição dos móveis,
A ordem das atividades que vou fazer:
Tudo decorado.

Mas um zumbido
Qual um assopro divino
Proclama as sombras
E eu tateio pelo caminho
Tropeço pelas escadas
Trombo em móveis
Desnorteado.
Um brinde ao inusitado!

Todavia
Mesmo sufocado em trevas
Contemplo a face do vazio
Que me mata.
Pois nenhum blecaute pode apagar
A presença de tua ausência.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Flashes na Escuridão - Capítulo 3

3
Casa. Alice queria estar em casa e o relógio marcava 22:12. Tentava, apesar da miopia, adivinhar o número dos ônibus e dentre eles ver o seu. Mas este não a levaria para casa. Santa Bárbara d’Oeste não poderia ser alcançada por um ônibus circular paulistano. Com ele, Alice só chegaria até a república em que morava. Não era a casa. Porém, tinha sua cama.
Estava cansada. Saía do trabalho, em uma loja de roupas, direto para a faculdade. Curso de jornalismo, não exigia muito, o importante para a instituição era que pagasse as mensalidades. O que já era um desafio para Alice.
22:13 e as luzes se apagaram. Ver os números dos ônibus ficou ainda mais difícil. A rua era alternada por trevas e a luminosidade agressiva dos faróis de automóveis. Porém, quando os carros passavam, tudo retornava a escuridão. O ponto de ônibus, há um minuto atrás com pessoas invisíveis para a Alice, preocupada com os números dos coletivos, agora que envolto em escuridão, estava repleto de personagens bem presentes. E assustadores. Vozes sinistras, mais perto de seus ouvidos do que ela gostaria. Movimentos bruscos sentidos pelo deslocamento de ar. Todos perigosamente protegidos pela identidade escondida e ameaçadoramente propensos a atacá-la. Apertou a bolsa junto ao corpo. Puxou para baixo a saia, tentando proteger as pernas expostas.
Risadas maliciosas. Só podiam ser endereçadas a ela. Não tinha muito dinheiro, nunca tinha. Mas o celular ela não podia perder. Nem as apostilas da faculdade. O corpo, então, estava tão desprotegido! Alice tremia, a rua estava ficando tensa, vozes desordenadas pairavam por todos os lados. Outros ônibus chegavam, mas não eram o seu. E nada de as luzes voltarem.
Eram 22:21 quando as primeiras lágrimas de Alice começaram a escorrer. Então, enfim, seu ônibus chegou. Mesmo que não a levasse para casa, agora, ela só queria distância das vozes ao seu redor. Ele ia servir.