sábado, 10 de julho de 2010

Passado requentado

Seria uma tarde agradável de domingo, com aquele sol soft de inverno. Mas ele estava detestando. Alguns amigos tiveram a idéia de reunir a turma do colégio. Dez anos da formatura, um churrasco comemorativo. Contemplando o passado. E lá estava ele, vendo no que ia dar.
Colegas que há tanto tempo ele afastara da memória, agora vinham perguntar-lhe o que estava fazendo da vida. Exibiam dentição amarela, alianças de casamento ou próximas disso. Bebês gordos e cônjuges insossos. Todos felizes e relatando suas glórias. Exibições.
Deprimentes. As garotas de outrora, que apertavam em calças jeans e blusinhas aqueles admiráveis objetos de desejo, pareciam irmãs do substantivo “flacidez”. Os amigos, antes parceiros cheios de vitalidade para revolucionar a rotina estudantil, agora se esparramavam em cadeiras, estufando suas barrigas só escondidas pela calvície. E ele sabia que não se importava mais com essas pessoas.
Mas a celebração continuava. Para integrar o ambiente, requentavam-se histórias dos dias em comum. O ambiente estava alegre. Sorrir e acenar, isso pode resumir uma existência. Por dentro, porém, cada um procurava medir suas infelicidades no espelho alheio. Patético assim. Porque as pessoas têm dificuldade de entender que o passado é morto a cada dia. Cutucá-lo só consegue ser sadismo.
Em todo caso, ele teria que sobreviver. E para isso, havia o álcool. Sempre o álcool.
Brindou à facilidade de se entorpecer.