terça-feira, 20 de maio de 2014

DEPUTADO ENCAMINHA POLÊMICO PROJETO DE LEI SOBRE COMPARTILHAMENTOS NA INTERNET

Brasília, 20 de maio de 2014 – O deputado federal Arlindo Anderson, do PZN, encaminhou um projeto de lei à presidência da Câmara que promete causar polêmica entre políticos e internautas. O documento propõe que o governo solicite ao Facebook a cobrança de uma taxa de R$0,10 de seus usuários por cada compartilhamento que eles façam na rede social. 

Com exclusividade, o WWSuicide conversou com o deputado sobre os motivos para implementar o controverso projeto de lei. “Não pretendemos censurar o compartilhamento de mensagens na rede social. Só estamos colocando um preço. Preço simbólico, inclusive. Para as pessoas terem consciência de que elas têm responsabilidades sobre o que estão divulgando. De certa forma, é uma medida educativa”, disse o deputado Arlindo.

Perguntado sobre se o projeto de lei é motivado pela crescente popularidade do perfil TV Revolta, o deputado negou. “Não é o alvo. Claro, incomoda ver as pessoas postando as mensagens dessa TV Revolta, com aquele humor deplorável, pseudopolitizado. Sem falar no tom reacionário, quase fascista do perfil. Mas não é o único alvo. Os usuários da rede social compartilham boatos sem checar as fontes. Esse tipo de atitude já custou vidas. E vou além. Acho que, se a pessoa quer compartilhar fotos de filhotes com trechos de músicas do Legião Urbana, nós não vamos impedi-la. A taxa a ser cobrada é simbólica, pensando naquele usuário que tem sua liberdade invadida ao se deparar, em plena manhã, com tamanha cafonice”.

Se o projeto de lei for aprovado, o deputado já pensa em novas medidas para expandi-lo. “Não entrou no texto, mas pretendo, futuramente, propor a cobrança de R$0,50 por fotos compartilhadas, como as chamadas selfies ou registros de viagens de férias. Não é censura, repito. Mas é comprovado que esse tipo de fotografia pode causar depressão naquele usuário, diante da conclamada felicidade alheia, se sente inferior”, finalizou ele.

A oposição, porém, já se mobiliza para barrar o projeto. O deputado Cristino Alqueires, do DEM, fez severas críticas ao projeto de Arlindo: “é um ultraje à democracia. Cobrar de uma pessoa por ela emitir sua opinião? O país estará andando para trás se esse projeto sem pé nem cabeça for aprovado.” Perguntado se faz parte da descrição de “usuário irresponsável” feita pelo deputado Arlindo, Cristiano Alqueires negou: “não. Eu gosto de Roupa Nova”. O projeto de lei será discutido em plenário nos próximos dias.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Notas sobre um linchamento

Zacarias retornou do mercado e, enquanto se preparava para abrir a alfaiataria, foi abordado por um atônito Apolônio:

- Zacarias, olha isso – e entregou ao amigo uma folha em que se lia “Jerusalém Alerta” e na qual constava um desenho de um rosto masculino.

- “Jerusalém Alerta, suposto retrato do homem que se declara Rei dos Judeus, filho de Deus”... Peraí, a gente não viu esse cara ontem?

- É isso que eu queria te perguntar. Não é aquele cabra que passou pela gente ontem?

- Tô achando que é... E o filho da mãe sonega impostos, você leu isso?

- Li. A gente se matando de trabalhar e esse marginal por aí, caluniando a nossa fé e não pagando impostos.

- Vamos à casa de Eliseu. Ele sempre sabe onde as pessoas moram por aqui.

***
Na casa de Eliseu, o velho, observado pela esposa e os três filhos, analisou o panfleto.

- Sei quem é. Trabalha em uma carpintaria, se não me engano. Fica três ruas pra lá, há uns seis quarteirões daqui.

- Vamos lá – se exaltou Apolônio. Se deixarmos para o império Romano resolver isso, já sabem como vai ser. Lei de Roma pra cá, recurso ali, Direitos Humanos... o fanfarrão do Pôncio Pilatos vai deixar por isso mesmo. Em menos de um ano esse safado vai estar solto, caluniando livremente nossa religião.

- Rei dos judeus, esse palhaço precisa ser enquadrado – disse Zacarias, apanhando algumas pedras no chão. Vem com a gente, Eliseu?

- Claro. Bartimeu e Bartolomeu, venham também – disse aos filhos, que vieram com paus na mão.

***
Durante o caminho eles se tornaram uma pequena multidão. De forma que, quando chegaram na carpintaria e avistaram o suspeito, imediatamente uma chuva de pedras veio em sua direção. Os outros empregados, em pânico, esconderam-se. Mas o alvo da multidão era outro. Atordoado com as pedradas, o sangue do corte em sua testa escorrendo em seus olhos, o suspeito foi logo dominado, amarrado em uma vara e levado para a rua.

Nem teve tempo de saber o que se passava. Enquanto era espancado, escutava frases como “cadê seu Deus-Pai agora, seu merda?” e “vou te coroar de porrada, rei dos judeus”. Um linchamento impiedoso.

Enquanto estendiam o corpo na rua, Carmelo, que vinha do centro de Jerusalém, trouxe a noticia de que um tal de Jesus, acusado de caluniar a religião judaica e de sonegar impostos, acabara de ser preso por guardas romanos.

- Vixe, então não era esse.

- Parece que não – respondeu Carmelo. Agora, vamos todos para a praça central! Dizem que Pilatos vai fazer uma votação para decidir se crucificam o meliante ou não.

- Ah, o safado não pode se safar.

- De forma alguma.


E o coro de “crucifiquem-no” já pode ser ouvido dali.