quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Reality...

            Francisco estava na cadeira de descanso. Esperava fazer a digestão para mergulhar na piscina. Estava isolado dos outros companheiros, que conversavam no interior da casa. Sentindo que o momento era oportuno, Tatyana aproximou-se dele:
            __E aí, se concentrando para a prova de hoje?
            __Não, só dando um tempo para entrar na piscina.
            __É, também vou entrar, mais tarde. Malhei de manhã para dar uma relaxada na água, agora.
            __Aham.
            __ Chicó, preciso falar algo contigo...
            __ Fala aí.
            __ Então, acho que você deve estar com raiva de mim, porque eu votei na Sassá e ela foi eliminada. Mas olha, quero te dizer que não foi nada pessoal, isso aqui é um jogo, e eu tive que votar nela. Nada contra vocês, não queria acabar com o casal da casa. Mas é que eu tinha que escolher alguém e ela foi a pessoa com quem menos tive afinidade...
            __De boa, Taty, não estou te julgando. Isso acontece, é a regra... Me dá um pouco da sua água?
            __ Claro, pode pegar.
            __A comida estava meio salgada hoje, né? Mas não liga, não fiquei com raiva de ninguém. Foi chato ir à votação do público junto com a Sassá. Nem tivemos chance de continuar juntos. Mas, de boa, eu não julgo ninguém. É o público, né?
            __É verdade. Mas bom saber que não ficou magoado. Não gosto de brigar com ninguém. Nos vemos mais tarde, então?
            __Você sabe onde eu moro... Hahaha...
            Taty foi embora e Francisco continuou na sua cadeira. Seus olhos estavam semicerrados para evitar a luz forte da vigorosa tarde. E ele pensava consigo. Não estava “de boa”. Taty e sua panela na casa não perdiam por esperar. Eles que combinavam votos, entre cochichos e troca de boatos. Envenenavam a casa com suas armações. A vez deles chegaria.
Francisco, motoboy, estava acostumado a dificuldades. Era à base de manobras arriscadas, buzinas nos ouvidos e ingestão de fumaça, que ganhava sua vida. Sempre tinha um preço. Agora, a chance da virada. Perdera Sassá no jogo, o amor de sua vida que conhecera há algumas semanas. Mas era uma provação.
No final, ele venceria. Ganharia um milhão de reais. Daria uma casa para sua mãe. Compraria uma cobertura para ele, na Barra da Tijuca. Casaria com Sassá. Ela desfilaria como madrinha de bateria em escola de samba. Ele gravaria um cd.Teriam filhos.  E coisa e tal.
... Novela.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Vocabulário ou Quando sobra o mais grave


Binóculo: instrumento para potencializar a visão em distância. Utilizado por visinhos indiscretos e em filmes de guerra com Chuck Norris.

Ciúme: temor que a pessoa amada desenvolva afeto por outro (a); amor, para além do saudável.

Helicóptero: abelha gigante de metal, com zumbido motorizado, que carrega espécimes humanos (policiais, jornalistas e abastados financeiramente, em geral).

Milionário: 1) aquele cujos bens materiais ultrapassam a quantia de um milhão de dólares estadunidenses; 2) parceiro de José Rico na dupla sertaneja Milionário & José Rico.

Traição: ser desleal com quem confia em você; ato de judasiscariotizar alguém.

Turbulência. Parado no alto, o helicóptero balança. Dentro, o milionário afrouxa a gravata. Usa um binóculo para vigiar os veículos que entram no motel. Tem ciúmes da esposa, acha que ela está o traindo. Avista um esportivo vermelho chegando na garagem. Do mesmo modelo do de sua mulher.
Se for ela, o milionário vai se jogar.
Tem farta conta bancária e, também, problemas psicológicos.