sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

21/12/2012


O “tic” do relógio nunca o incomodara tanto. Os ponteiros girando, livre e tranquilamente, também não. Ele olhava compulsivamente para o relógio. E, a cada conferida, seu temor se concretizava: naquele cabalístico 21/12/2012, o mundo não iria acabar. Malditos maias.

Enfim, era preciso encarar os fatos. Partir para o plano B. Deixou o relógio em casa e foi jogar na Mega Sena da Virada.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Manhã



Esfrego os olhos, tiro remelas - o problema pode estar neles. Não é. 

Talvez seja a sujeira no vidro da minha janela. Bem que poderia ser. Mas também não é.

Não sou eu, é você. A fumaça é o sintoma de cidade grande, mesmo. De toda sorte de porcarias tóxicas que vão nos matar de câncer.

Na paisagem sonora, ruídos. Marretadas, jatos de tinta, madeira serrada... Por todos os lados erguem-se prédios, monumentos da modernidade. Imensos caixotes de tijolos para empilhar gente. Uma bela invenção, sobretudo para terroristas.

São pouco mais de 8h e Belo Horizonte já tem um bafo de Saara. Tenho pena dos otimistas, deve ser difícil ser um deles no verão.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

O de melhor para o mundo


__ É preciso vencer o individualismo. Temos que doar ao mundo o que temos de melhor. Você, meu amigo, o que você doa?

Fitando suas entranhas, o interrogado optou pelo caminho tortuoso. Foi sincero.

__ Ao mundo entrego o meu desprezo. Mas com carinho.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Sansão


Sansão cospe nas mãos e as passa copiosamente na careca. Quer, desesperadamente, amenizar o ressecamento da parte de seu corpo que ostentara a fonte de sua força. Mas que, agora, encara o sol, nua. 

Resta-lhe aguardar que seus documentos sejam aprovados na previdência social. Para, quem sabe, poder comprar um hidratante.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Mercado da Bola

O empresário, seu clube atual e o anterior: tal como uma pizza, sua posse estava divida entre os três. (...) 
Continua -> http://manufatura.blogspot.com.br/2012/10/mercado-da-bola.html

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Discografia comentada: Fiona Apple – “The Idler Wheel...” (2012)



Depois de uma espera de sete anos, os fãs de Fiona Apple receberam em 2012, enfim, o sucessor de Extraordinary Machine. E o novo álbum já se impõe no título, um poema escrito pela cantora/ compositora: The Idler Wheel Is Wiser Than the Driver of the Screw and Whipping Cords Will Serve You More Than Ropes Will Ever Do.

Mas eu pergunto: por que esperar por Fiona? A indústria musical despeja pencas de cantoras com vozes singulares e influências de jazz e rock alternativo. Eu poderia enumerar umas cinco delas se quisesse polemizar. Surgem com uma aura cult e, contraditoriamente, tornam-se populares. Para depois sumir.

Nos anos 1990, quando surgiu com Tidal (1996), Fiona Apple podia ser compreendida como um caso desses. Era claramente um achado musical. Com apenas 19 anos, ela lançava um álbum elogiado e repleto de músicas marcantes. “Sleep to Dream” e “Criminal” mostravam uma cantora com personalidade e uma admirável voz contralto. Foi hit, álbum platinado e vencedor de Grammy.

Em When the Pawl... (1999) o sucesso não foi o mesmo, mas Fiona manteve a qualidade. E nos anos seguintes, ela sairia dos holofotes, mostrando-se um caso sincero de inadaptação ao mainstream. Pois existe o glamour de “não se adaptar à fama”. No caso da cantora, porém, o incômodo com a exposição midiática é real.

The Idler Wheel... é, provavelmente, o melhor álbum de Fiona Apple, ainda que seja uma afirmação um tanto pessoal. É um cd homogêneo, as canções, apesar de compostas ao longo do hiato de sete anos, são bastante coerentes entre si. Ele é mais cru do que os anteriores, sem arranjos orquestrais ou batidas dançantes, por exemplo. De um modo geral, as músicas são construídas na base voz + piano + percussão.

Fiona Apple traduz em música seu universo, que é bastante particular em sua tempestuosidade. Nele, a doçura e a beleza não excluem tormentos, aflições e desencanto. É o caso da faixa de abertura e primeiro single, “Every Single Night”. A canção varia de um início sutil para um refrão potente, onde a cantora declara que “every single night is a fight with my brain”. Sobram asas brancas de borboletas em chamas no cérebro e ideias escorrendo na coluna da moça. E o cd começa muito bem.

“Daredevil”, em seguida, confirma que escutaremos a voz de Fiona em carne viva em The Idler Wheel... . “Valentine” seria uma balada, mas baladas não combinam com a cantora e o refrão deixa a música realmente interessante.

Mais à frente, com “Left Alone”, Apple é feroz e brada “how can I ask anyone to love me/ when all I do is beg to be left alone”. Para muitos, é incômodo ver a atual magreza da cantora, com olheiras que engolem seus olhos azuis. Não deveria. A vida, convenhamos, não é lá muito fácil de digerir. É milagre que todos nós não tenhamos distúrbios alimentares.

É um álbum curto. São 10 músicas e 42 minutos. Pouco, em números, para tanto tempo de espera. Porém, The Idler Wheel... é intenso e não há canção nele que se destaque negativamente. Pelo contrário, é preciso ressaltar a beleza de “Werewolf” e “Anything We Want”.

Assim, fica a resposta para a pergunta lá no início. Espera-se pelos retornos de Fiona Apple porque eles não decepcionam. Seu ritmo lento de produção não esconde uma artista em decadência. Pelo contrário, parece ser uma condição necessária para que ela produza álbuns sinceros. E que, ao que tudo indica, valem mais do que quase tudo que foi feito na música pop de 1996 para cá.

*Em tempo: foram anunciados três shows da Fiona Apple no Brasil. A novaiorquina passará por Porto Alegre (27/11), São Paulo (29/11) e Rio de Janeiro (30/11). 

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Amargo como a morte

Mal tinha percebido que o dia começara, quando sua boca foi inundada pelo líquido amargo. (...)  http://manufatura.blogspot.com.br/2012/09/amargo-como-morte.html

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Discografia comentada: “Disclosure” (2012), The Gathering


Quando, em agosto de 2007, a vocalista Anneke van Giersbergen deixou o The Gathering, o chão se abriu para os raros fãs da banda. Pois não era uma simples troca de integrante. A entrada de Anneke marcou a mudança no som do grupo, que progressivamente foi abandonando estilos mais pesados (doom/ gothic metal) para sonoridades mais atmosféricas, que a banda denominou trip rock (alusão ao trip hop de grupos como o Portishead).

Mais do que esse marco simbólico, Anneke se tornou a “cara” do The Gathering. Com sua bela voz e o assombroso carisma, a cantora não poderia ocupar lugar diferente. Foi tão protagonista na banda que resolveu dar seu vôo solo. Ser seu próprio rosto.

E agora, cinco anos depois, podemos ver que o rompimento, embora dolorido aos entusiastas do grupo, foi honesto. Everything is changing, terceiro álbum solo de Anneke (os dois anteriores usaram o nome Agua de Anique como transição) indica que a cantora está convicta em flertar com o pop. Vide o clipe de "Take me Home".

Já o The Gathering lançou nesse mês seu segundo trabalho pós-Anneke, Disclosure. Esse álbum teve maior participação de Silje Wergeland (ex-Octavia Sperati), norueguesa que assumiu os vocais. O anterior, West Pole (2009), ela encontrou praticamente pronto. E Disclosure é um atestado de que o The Gathering segue fiel ao seu trip rock, sem soar repetitivo no caminho que escolheram.

No álbum novo, os holandeses liderados pelos irmãos Hans e René Rutten incorporam mais características do rock progressivo, outro rótulo que costuma ser utilizado para definir sua sonoridade. Não o progressivo de intermináveis solos virtuoses, é bem verdade, mas na exploração da capacidade sensorial da música.

Paper Waves”, apresentada ao público brasileiro no show da banda em julho de 2011, abre o disco. É uma faixa eficaz como abertura do disco, mostra que o que virá a seguir é promissor. Os saudosistas podem até sentir falta de Anneke, mas Silje cumpre bem a árdua tarefa de substituí-la. Sobretudo por soar bem e em seu próprio estilo.

“Meltdown”, em seguida, é a música mais ousada do cd. Além do vocal masculino (estreia do tecladista Frank Boeijen na função), algo que não ocorria desde “A Life All Mine”, de Souvenirs (2003), a música inicia com uma dinâmica bastante moderna. Porém, pela metade, ela toma rumo mais introspectivo. De fato, Disclosure é um álbum de músicas longas e com variações internas. “Heroes For Ghosts”, quarta faixa, que teve um clipe lançado no ano passado, dura mais de dez minutos. Épica, mostra uma banda entrosada.

“Paralyzed”, terceira música, é a que mais se aproxima de uma balada no disco e, de fato, tem potencial para single. Conta com uma bela melodia vocal e um acompanhamento bem digno.

Disclosure tem também uma faixa dividida, “Gemini I” e “Gemini II”, essa encerrando o cd. “Missing Seasons” talvez seja a canção que menos chama a atenção no cd. “I Can See Four Miles” reforça que, mais do que faixas grandes, temos músicas grandiosas no décimo álbum de inéditas do The Gathering.

O supracitado show dos holandeses em São Paulo, no ano passado, mostrou que o impacto gerado pela saída da ex-vocalista afetou o número de seguidores do grupo. O público que compareceu naquele domingo foi consideravelmente menor que aquele do outro show da banda no Brasil, em 2006, ainda com Anneke – o tamanho do local onde os eventos ocorreram também transmite essa realidade, do Via Funchal para o Hangar 110.

Disclosure nos faz concluir que, junto da separação entre os integrantes, também ocorreu uma entre seus seguidores: foram-se os(as) tietes de Anneke, ficando os verdadeiros fãs da banda. Pois musicalmente é inegável que o The Gathering mantém sua identidade. Com mudanças, claro, pois trata-se de uma característica de sua trajetória. Mas eles seguem explorando as possibilidades do trip rock. Seus fãs da banda podem ser poucos, todavia são convictos de serem uns privilegiados.  

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Café filosófico


Mexendo a colher na xícara para dissolver o açúcar em seu espresso, ele se questionou: deveria estar frustrado com os rumos de sua vida?

Pensou, parando o movimento, mas por poucos segundos. Era o suficiente para chegar a uma conclusão. Não, não havia frustração. Ao menos não a esse respeito.

Ele observou, ao redor, as pessoas nas outras mesas do Café. E teve certeza: se fosse ficar frustrado, seria por outros motivos. Como por fazer parte da espécie humana.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Notas sobre nada


Queria escrever um texto sobre nada. Estar liberto de um tema. Seria o seu desafio naquela manhã. Por isso, abriu o Word em seu computador, estalou os dedos e se preparou para começar. Antes, porém, achou pertinente conferir seu correio eletrônico. Os dois: primeiro o endereço do Gmail e, depois, o Yahoo. Muitos spams e nenhuma mensagem urgente. Normal.

Depois, foi conferir suas redes sociais. Facebook e Twitter. Muitas novidades na vida dos seus amigos. Bom para eles. Precisava conceber um texto.

Voltou para o Word. E esboçou um título para o texto. Não gostou. Seria melhor começar escrevendo, depois pensaria no título. Não. Preferiu voltar para a internet e ler algumas notícias. Quem sabe haveria uma nova guerra? Outro escândalo político? Um divórcio entre as celebridades? Precisava se informar.

Leu algumas notas e foi conferir se havia algo de novo sobre seu time. Pouca coisa acontecera do dia anterior até aquela manhã. E, no Word, nada. A folha virtual continuava branca.

Então, pensou numa frase inicial. Emendou duas, três. Um parágrafo. E parou. Releu, estava ok. Foi conferir se não havia recebido um novo email...

Escrever um texto sobre nada. Não sabia que a tarefa seria tão autobiográfica. Sequer sabia por onde começar. Levantou e foi até a cozinha pegar um copo d’água.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Questionário


__ Sou um artesão de palavras. Minha matéria-prima são as ideias. Escrevo textos, mas gosto de pensar no meu ofício como o labor de um alquimista. Colho sonhos, cores, sorrisos. O amor, a delicadeza humana, as lágrimas de uma donzela. O frescor das manhãs, a filosofia das crianças, o aroma do café na cozinha das avós... E os transformo em literatura. (...)

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quarta-feira, 4 de julho de 2012

27


Fazer algo grande
E morrer aos vinte e sete
Era sua meta juvenil
De vencer
Incontestavelmente.

Agora,
Com suas tantas primaveras
Ele só podia advogar pela nobreza
De viver,
Quantos anos fossem necessários,
Sendo o mais medíocre dos homens.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Insight matinal

Abriu os olhos e espiou o relógio: em cinco minutos o aparelho soaria. Seria inútil tentar dormir mais um pouco... http://www.manufatura.blogspot.com.br/2012/06/insight-matinal.html 

terça-feira, 12 de junho de 2012

Dia dos Namorados


Aquele 12 de junho seria de romance para casais em todo o país. De lamentações para aqueles solteiros que escutaram o Fábio Júnior e seguem procurando a “metade da laranja”. E de trabalho intenso para os funcionários de perfumarias, floriculturas e lojas de chocolate.

Seria um Dia dos Namorados tradicional. Menos para Elize, que está na cadeia por ter esquartejado o marido no mês passado.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Jeff Buckley: 15 anos


Minha intuição sempre foi apurada em relação à música. Grande parte das bandas e artistas que compõem o meu panteão foram percebidos com rápidas amostras. Por isso, poucas decepções guardo comigo nesse tempo em que me tornei um apreciador musical, com a dedicação que tal arte merece.

Com Jeff Buckley não foi diferente. Ainda muito jovem, lá pelos treze anos, vi pela primeira vez um vídeo dessa figura, por intermédio de Terence Machado e seu Alto Falante. Na época, porém, meus ouvidos necessitavam de mais distorções, assim como os homúnculos em Full Metal Alchmist necessitam de pedra vermelha. Mesmo assim, lembro que a música, que não lembro qual era, me causou uma ótima impressão, embora não fosse o que eu buscava escutar.

Guardei o nome e a fidelidade ao programa da Rede Minas. Vi mais algumas vezes Jeff Buckley nesse canal até o Kazaa e minha internet discada me proporcionarem um maior contato com a obra desse compositor. E, até hoje, nas minhas audições já não ocasionais, sinto o mesmo espanto daquela primeira vez. Primeiramente, o mais óbvio, pela qualidade vocal. Será que conheço outros vocalistas que atinjam agudos tão certeiros, prolongados, angustiados, sem destruir o timbre de sua voz? Dificilmente. Jeff Buckley cantava com facilidade melodias incertas que vão desde o suspiro de “I love you, but I´m afraid to love you” em So Real, até gritos prolongados do refrão “Wait in fire” de Grace. Só por isso, ele já seria um inigualável acréscimo à produção musical.

Entretanto, ele acrescentou bem mais. Sua sensibilidade aliada de sua capacidade como compositor fazem com que suas músicas sejam dotadas de uma carga de alto teor emocional. Existem bons compositores que fazem música agradável. Os melhores, porém, são aqueles que colocam um algo mais que dá vida à composição. Justamente, a vida do artista. Por isso a importância da dinâmica interna de suas músicas, com dedilhados leves na guitarra e distorções convivendo em uma mesma música; ou o descontraído cover de Yard Of Blonde Girls e Everybody Here Wants You em um mesmo disco. Dinâmica. É difícil encontrar músicas melancólicas com variações. Talvez por isso eu não goste de Belle And Sebastian. Nem afins.

Por isso e muito mais, não consigo pensar em Jeff Buckley como mais um talento que tenha surgido na música pop. Isso é impensável. Ele está em uma categoria muito mais seleta, a de artistas que atingem uma profundidade muito além da do convencional. Categoria que, com o perdão dos puristas que buscariam pares na década de sessenta, ou algo do tipo, vejo amplamente desabitada.

Infelizmente, escrever sobre Jeff Buckley implica esbarrar no tema da sua morte. Evento que, penso, foi uma das maiores tragédias que a música já vivenciou. Afinal, morrer afogado, antes de concluir os acertos do seu segundo álbum foi uma saída triunfalmente romântica. Trágica, sobretudo. Com todo o peso que essa palavra possui. Nem nisso o filho de Tim Buckley é superável.

Como o fluxo do tempo é contínuo, um rio maldito correndo enlouquecido, completam-se 15 anos que Jeff Buckley morreu. Datas, quem precisa delas? Contar os anos que se passaram desde que sua potente voz foi silenciada não ajuda a manter o ânimo em estado aceitável. Consola pensar que suas músicas estão aí e outras pessoas podem sentir o espanto que o clipe no Alto Falante me causou. Ao menos isso.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Projeto Pagode em Prosa #4

A obsessão de Thiago atendia por um nome: Vanessa. Há tempos não tirava a morena dos pensamentos. Estava apaixonado, qualquer assunto o lembrava dela. Mas não era correspondido. E o inverno ficava mais monocromático a cada rejeição que sofria.

Ele era um sujeito romântico. Tinha um vasto repertório de galanteios. Enviou-lhe flores, caixa de bombons, dedicou música na rádio, fez amizade com a família dela... e nada. Ia até mandar um daqueles carros de mensagem, mas, sorte a dele, amigos o alertaram antes que fosse tarde. Vanessa agradecia os presentes, mas oferecia a amizade e nada mais. Thiago até fazia o papel de confidente, escutava com atenção as mágoas da garota sobre o ex-namorado, por mais tedioso que isso fosse. Era um bom moço.

As opções estavam acabando e o rapaz armou uma última investida. Se não desse certo, não haveria mais nada a se fazer. Portanto, ele se preparou ao seu melhor estilo: cortou o cabelo, estreou uma camisa nova e foi generoso ao salpicar perfume em si mesmo. Chamou Vanessa para um passeio pela praça. Se suas atitudes não surtiam efeito, ele seria direto e faria uma declaração de amor, a mais comovente que ela jamais havia escutado.

Naquela noite, ele segurou as mãos dela, olhou em seus olhos, recitou Shakespeare. Mas Vanessa não se manifestava. Então, Thiago partiu para o improviso. Apelou para o céu.

__ Você é tudo para mim, se me aceitar como seu namorado, não haverá limites que não ultrapassarei por você. A Lua, ali, tá vendo? Se me pedir, eu busco ela. Se bem que você é muito mais brilhante...

E nesse momento, Vanessa foi despertada de sua impassividade:

__ É sério? Você busca se eu pedir?
__ Claro, meu amor. Por você, tudo.
__ Ué... eu acho que eu quero a Lua. Pega ela para mim.

Thiago riu. Pela primeira vez Vanessa correspondia a um galanteio dele. Estava dando certo.

Ou não.

__ Me traz a Lua, Thiago. É sério.

Era mesmo. Vanessa queria a Lua, de verdade. 

E Thiago era um bom moço. Ao chegar em casa, ele procurou no Google o que era preciso para se tornar um astronauta.

Canção homenageada:

sexta-feira, 4 de maio de 2012

O Guia do Mau Humor - Capítulo 3: "As redes sociais"


Hoje, as redes sociais são essenciais nas nossas vidas. Nelas nos comunicamos, trocamos informações, nos mobilizamos para salvar o mundo, compartilhamos textos de blogs dos coleguinhas (o que é extremamente simpático)... e nos irritamos. Por que não? Afinal, ainda que virtualmente, são seres humanos que estão ali. Nem todo F5 que damos vai nos dar orgulho de nossa espécie...

Um problema fundamental nas redes sociais: a facilidade de confundir público e privado. Mal que nós conhecemos bem, Brasília que o diga. Mas aqui em outro sentido. As pessoas não têm a menor ideia do que deve ser compartilhado com seus amigos e o que deve ser guardado na intimidade.

O que nos leva ao vilão das redes sociais: a informação desnecessária. É muito freqüente no Twitter. Pessoal, será que é importante dizer para a comunidade o que você comeu hoje? Se estava bom? Os efeitos disso em seu intestino? Ou o que você fez a cinco minutos, e agora, e o que vai fazer nos próximos dez?

Bom senso, senão você perde um amigo mal-humorado. Lembre da sábia “tirada” do vocalista do Placebo no Serginho Grosiman: “sabe, meu caro amigo, às vezes menos é mais”. Brian Molko, ícone do mau humor. http://www.youtube.com/watch?v=Zh6ptRP7KzA

Vivemos em um tempo em que as pessoas expressam suas carências em atualizações na internet. Não basta estar triste porque seu periquito está doente. Você tem que colocar “LUTO” na frente do seu nome. Não basta visitar o sul do Paquistão. É preciso postar as 938 fotos que você fez. Ainda que o sorriso do tipo “aplicaram botox na minha bochecha” seja um só.

Aliás, outro terror: o “dig din feelings”. Marketing pessoal, esnobismo, a gente vê por aqui. As redes sociais são um instrumento para dizer ao mundo o quanto você é foda. Ou acha que é. Se as pessoas fossem tão confiantes quanto seus perfis virtuais são, não sei porque tem tantos caras hiperativos dando palestras motivacionais, berrando “SIM, VOCÊ VAI CONSEGUIR. POR QUÊ? PORQUE VOCÊ É O CARA!”.

Antes de ir ao próximo tópico, voltemos às fotografias. No passado, quando alguém lhe recebia em casa e o obrigava a ver as fotos ou/e o vídeo do casamento, isso era considerado uma eficaz forma de tortura. Hoje em dia, com as câmeras digitais, postam-se até fotos de batizado do cachorro. E as pessoas conferem. Voluntariamente. Cyber-sadomasoquismo?

Mas não para, não para, não para, não. Se até agora não foi o suficiente para você ver o quanto as redes sociais atiçam seu mal humor, é hora de apelar: as baranguices. Sim, o Facebook está dominado pelo brega, no mal sentido. Fotos de bebês guti-gutis, ou de gatinhos idem, com mensagem de “bom dia”? Sim, estão lá. Correntes do tipo “se não compartilhar vai morrer seco”? Check. E frases auto-ajuda, na falta de melhor definição? Também temos. Para todos os gostos. De frase do “Padre Gato” até o Mr. Catra, passando por Airton Senna, Caetano Veloso, Dean Winchester (personagem de “Supernatural”), e os literatos pops em citações aleatórias ou falsas, mesmo. A cada compartilhamento é uma revirada no túmulo do Caio F. Abreu e da Clarice Lispector. Nessas horas, você até fica feliz em só ter um blog pouco acessado.



E nossos amigos que querem nos “conscientizar” compartilhando fotos de animais/ pessoas mutiladas, ou com campanhas do tipo: “no Brasil um comediante [que fala coisas ofensivas] é levado a sério e ‘uspolítico’, na brincadeira”? É ou não para amar, só que ao contrário?

Enfim, vamos reconhecer: não dá mais para viver sem internet. Mas passar a vida toda sem cometer ao menos um “orkuticídio”, ou seja lá como o termo for atualizado? Só os fortes.   

sexta-feira, 27 de abril de 2012

O Guia do Mau Humor - Capítulo 2: "No Supermercado"


Não que o mundo em si já não seja um palco privilegiado para o mau humor. Mas se ele tem um templo, seu nome é supermercado. Não dá. Ali, até a mais serena das criaturas deixa sua natureza mal-humorada aflorar. Se você não ficar minimamente irritado em um supermercado, vale conferir se não tem uma aureola sobre sua cabeça.

Por motivos simples. 1) Supermercados estão sempre cheios. 2) Supermercados estão sempre cheios de pessoas. 3) Supermercados estão sempre cheios de pessoas não necessariamente educadas.

A tensão começa por uma constatação básica. A não ser que você seja filho de um mega empresário (Eike insuportável, se for o caso), não vai ficar feliz de ver seu dinheiro indo embora. O governo Sarney e sua inflação monstra já acabou, mas os supermercados ainda sugam nossas finanças com habilidade ímpar. É triste visualizar que mesmo as coisas mais básicas para uma existência – café, miojo, batata palha, bacon, se for da turma que come carne – tem seu preço. O dinheiro vai num tapa. Já as horas de trabalho para consegui-lo...

Mas o problema não é só esse. Em um supermercado dá de tudo, de tudo dá. É preciso ter alteridade. Só que você, mal-humorado de raiz, não vai passar ileso pelos tipos humanos que encontrará. Por exemplo, na seção de legumes. Sempre vai ter alguém escolhendo tomates na sua frente, com um poder invejável para encontrar os bons tomates. Você revira tudo e não encontra nada que preste. Já seu(ua) colega enche a sacola em um instante. Ser esnobado por alguém melhor do que a gente, mesmo que seja na arte de escolher os bons tomates, nunca é bom.

E os carrinhos? Se o supermercado estiver cheio (duvido que não estará), tem que olhar para os dois lados antes de atravessar um corredor.

Sem falar em quando você procura algo específico, como, por exemplo, cola Super Bonder. Supermercados sabem ser labirintos. Só que quando encontrar o seu “tesouro”, vai pagar por ele.

A provação para o mal-humorado, entretanto, ainda está por vir. As filas nos caixas. Quem sai ileso delas? Nessa etapa, não vamos mentir, é preciso ser forte. É hora de pensar em um bordão à Zorra Total, tipo “olha a angina!”, para manter a calma. Não será fácil.

Por quê? As filas estarão grandes. E isso é abrir precedente para que as pessoas sejam... pessoas. Se você der bobeira, alguém vai cortar a fila bem na sua frente. Sim, no século XXI, ainda tentam desses truques.

Não é raro o caixa dar problema logo quando você vai passar suas compras. E, de fato, os trabalhadores de supermercado não costumam estar no auge da sua simpatia. Não julgue. São colegas nossos, olha só. E o trabalho deles, convenhamos, não é fácil.

Por fim, um alerta. Cuidado com as filas preferenciais. Às vezes, todas as outras estão transbordando de carrinhos e o caixa preferencial aparece como um oásis. Raios de sol, coral de anjos mostram o caminho.

É miragem! Assim que você chegar lá, vão brotar velhinhos e mulheres grávidas. Você é mal-humorado(a), mas não é escroto(a), então não vai questionar o direito dessas pessoas. Vai ficar esperando. Não necessariamente feliz.

Posto isso, a dica é evitar os supermercados. Em algumas oportunidades, isso será impossível. Diante do inevitável, pense na possibilidade de ser um herói. Tente voltar para casa com a sanidade ilesa.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Guia do Mau Humor


Capítulo 1: Assumindo-se

Você não tem muita paciência com algumas particularidades dos nossos pares da espécie humana. Não acorda esbanjando simpatia. Usa de fones de ouvido como escudo para evitar diálogos gratuitos. Chegou ao cúmulo de se identificar com a Xuxa no famigerado episódio do “Aham, senta lá, Cláudia”. Sim, você é uma pessoa mal-humorada.

E o que nós queremos dizer é: tudo bem. Mesmo. Não há mal nisso. Inclusive, negamos o teor negativo aplicado ao termo. O ideal seria dizer que você tem um humor, digamos, diferenciado. E diferenciar é bom.

Qualquer filosofia de botequim dirá que as pessoas se constroem a partir do reconhecimento que as outras pessoas têm delas. E seu mau humor é um sintoma de anti-sociabilidade, um grito de independência do seu ser, que não quer simplesmente “seguir a manada”.

Dessa maneira, o mau humorado não é nocivo à sociedade, como tantos imaginam. Não. Precisa-se de gente que vá contra o óbvio. Senão o mundo vira uma grande histeria coletiva.

Se isso não ajudá-lo a se sentir melhor com seu mau humor, pense em você como um velinho rabugento em formação (a não ser que já seja um idoso; aí você já é a realização). O que seria da humanidade sem esses adoráveis senhores (as), sábios seres que chegam no poente da vida e compartilham seu ceticismo conosco?

O mundo precisa dos seres mal-humorados. Mas talvez ele não retribua como deveria. Você vai se sentir excluído por seu humor diferenciado. Por exemplo, quando aquele conhecido mostrar o filhinho dele que mal sabe andar, fazendo alguma “dancinha da moda” (coff, coff, “Ai se eu te pego”). Você não vai achar graça. Lembrará que macaquinhos amestrados também fazem isso. Temerá pelo futuro da criança. E vai se sentir o pior ser humano do universo.

Mas você não é – ao menos, não por isso. Tem que ter alguém para torcer contra o Barcelona. Ou que não goste de Beatles.

Para você não se sentir tão solitário nessa tarefa, acompanhe os próximos capítulos desse guia. 

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Os sonhos do Sr. Oliveira

            Envelhecer é realmente uma coisa horrenda. Sr. Oliveira demorou a aceitar esse fato. Na juventude, ele esbanjava vitalidade. Tinha o físico de um touro e uma disposição respeitável.
Mas quando foi inevitável reconhecer que o peso do tempo em suas costas já era visível, ele se esforçou para lidar bem com isso. Afinal, foram-se setenta e sete primaveras. Não podia negar que o outono se aproximava.
Sr. Oliveira refugiou-se, então, na rotina pacata de um aposentado. Gostava de passear com seu cachorro pela manhã. Iam até a padaria, desfrutando o frescor das seis horas. O dia esbanjava o frescor nesse momento e as ruas exibiam tranqüilidade igual a do tempo de sua juventude.
Voltava para casa com os pães, o cachorro e o jornal. Ficaria a manhã toda folheando tranquilamente as páginas, comentando as notícias com a esposa e repreendendo o neto adolescente, que só acordaria depois das dez.
Em algumas manhãs, todavia, Sr. Oliveira ficava inquieto. Culpa de sonhos que periodicamente vinham perturbá-lo. Nada de novo, era o seu passado que vinha visitá-lo. Lembranças dos tempos em que sua patente militar precedia seu nome mesmo nas relações familiares. De subterrâneos, com umidades nas paredes e gritos de dor aterrorizantes ao fundo. Jovens barbudos em sua frente se negando a confessar. E ele os torturando. Pelo bem da pátria.
Sr. Oliveira não sentia culpa. De fato, até se orgulhava. É que aqueles gritos... Ele só queria que eles não fossem tão viscerais. E tantos. Tantos...

sexta-feira, 16 de março de 2012

#microconto5

Pedro confiava em Sofia. Expunha-lhe suas alegrias, temores e aflições. Ela recebia tudo com ternos sorrisos e conselhos atenciosos.

Ele quase a amava. Quase. Pois a confiança custava R$200 a hora.

quinta-feira, 1 de março de 2012

29 de Fevereiro

A cada ano, a Terra demora 365 dias para circundar o Sol. Na verdade, entretanto, ela nunca é eficiente a ponto de cumprir a meta. Sobram seis horinhas bobas nessa brincadeira toda. No limbo, elas vão sendo acumuladas e, no quarto ano, formam um dia completo. É o fatídico dia 29 de fevereiro, especial por sua raridade.

Moisés nunca tinha pensado nisso com seriedade. Até aquele ano. Ficou deslumbrado com a ideia de um dia distinto a ponto de só ocorrer naquela periodicidade. Um dia extra, atípico, não poderia ser desperdiçado.

Por isso, não foi trabalhar. Dedicaria o dia raro a si mesmo. Ficaria em casa, feliz.

Mas não foi o suficiente. Ele não queria ser egoísta e gastar o dia extra apenas consigo mesmo. Era preciso fazer algo bom, mas não só para ele, para todos. Para o mundo. Só ficaria satisfeito se fizesse algo grandioso.

E ele fez. No dia 29 de fevereiro de 2012, Moisés matou os seus vizinhos.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

A foliã

            O carnaval chegou e Ângela estava feliz. Naquela sexta-feira, no fim da tarde, ela voltou para casa sentindo o ar diferente. O crepúsculo encontrava-se tematicamente festivo, com as cores de uma glamorosa fantasia. Os jovens circulavam entusiasmados em suas conversas, a cidade toda preparava a grande festa.
            Mas Ângela queria mais. Muito mais. Se pudesse, jogaria confete naqueles que não davam importância ao carnaval. Levaria caixas de som consigo para o samba chegar em todos os lugares. Vestiria os obesos de Reis Momos. Distribuiria fantasias. Era carnaval, ora!
            Passou em um supermercado e comprou algumas bebidas. Ela gostava de beber e dizia que um dos motivos de não ter se casado é que os homens tinham medo de mulheres como ela, com personalidade. E enquanto a animação começava no centro, Ângela e sua sacola de supermercado iam em sentido contrário, para casa.
Os desfiles das escolas de samba ainda não haviam começado, mas ela já estaria posicionada. Diante da TV, com o controle nas mãos. São Paulo, Rio, axé na Bahia, frevo no Recife. Há anos sua folia não tinha fronteiras geográficas.
E ela viraria a madrugada, pois era uma boa foliã. 

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Taiti (segunda versão)

Procurando encontrar-se espiritualmente, ele mudou para o Taiti. Foi em busca da uma simples e pura existência. Lá, ele rezou, dançou com os nativos e nadou sob o luar de Papeete.

Mas após duzentos dias, ele voltou. Não havia problema existencial que se fosse maior do que as saudades que sentiu.

Era apaixonado por feijoada.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Pinheirinho

A criança acordou com o estrondo das bombas. Não sabia sobre reintegração de posse ou de especulação financeira. Tampouco conhecia o nome do governador. Mas logo entendeu que não tinha mais uma casa. E que, naquela segunda-feira, não veria “Os pinguins de Madagascar”. 

Postado originalmente http://manufatura.blogspot.com , nas minhas atualizações lá, sempre nos dias 26.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Sem título #4

Nas sextas-feiras, o marido chegava, tarde da noite, exalando álcool barato por todos os seus poros. E Glória tinha que ficar lá, passiva, em suas investidas sexuais. Era mais seguro. Até porque ele dormiria durante o ato, mesmo.

Olhando para os rabiscos que as infiltrações deixavam em seu teto, a esposa fazia as contas do mês. Janeiro era impiedoso. A farra fresca na memória do fim do ano era trocada pelo cinto apertado com os impostos e gastos escolares.

O marido já roncava.

Glória havia lido que as mulheres têm maior facilidade em fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo. Fazia sentido.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Bolsonarianas

Higienização
A sociedade gosta
Pé na bunda dos viciados
Spray de pimenta e bala de borracha.

O país anda perdido
Uma situação deplorável
Os homossexuais se beijam nas ruas
Que cena abominável!

Não que eu tenha algo contra
Sem essa de homofobia!
Bicha é engraçado lá na novela
Aqui eu prezo pela família.

Onde andam os bons costumes?
Quanta avacalhação
Direitos Humanos, sim.
Pra gay, puta e bandido, não!

Eu pago meus impostos
Sou o mais honesto da cidade
Rezo missa aos domingos
Deus, Família e Propriedade.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Discografia Comentada: Radiohead – The King of Limbs (2011)

“Música para ouvir música para ouvir música para ouvir”, já dizia Arnaldo Antunes. É verdade, música é para ouvir. Mas, uma vez apreendida por nossos órgãos de audição, inclusive aqueles ossinhos de nomes engraçados, a música repercute nas outras formas sensoriais. Assim é com outras formas de expressão. Esse texto, por exemplo, esboça ser um caminho racional que o raro leitor pode seguir, compartilhar e curtir. Ou não.
            A fórmula das canções é bem racional em sua estratégia de tocar o ouvinte. Uma introdução que pretende chamar a atenção, trechos geralmente com versos cantados que trazem a expectativa do refrão, que é quando há o julgamento: música boa ou música ruim? Você se identifica com o ritmo, com o que é cantado, com a intensidade dos instrumentos. Ou não.
            O Radiohead trabalhou com essa fórmula com grande sucesso até Ok, Computer (1997) que é, incontestavelmente, seu maior clássico. Nele, o grupo soou pop sem ser vulgar. Melancólico, é verdade, mas esta é uma forma de não ser superficial e deve ser respeitada. Naquele álbum, estava “Paranoid Android”, uma das canções mais admiráveis que o mundo já viu.
            Depois o grupo nunca mais seguiu tão à risca a tal fórmula identificada acima. É verdade, não rompeu amplamente com ela, o que seria afrontar um formato já centenário. O Radiohead passou a fazer música que, mais do que ouvida, necessita ser sentida. Pelo corpo, mesmo. Aí, foi fundamental a apropriação da música eletrônica, que convivem com elementos do rock alternativo desde o Kid A, de 2000.
            The King of Limbs (2011) não é o melhor trabalho do grupo. Como desvantagem, o fato de ser posterior ao ótimo In Rainbows (2007). Mesmo assim, o cd do ano passado não deve ser ignorado. Escutado de ponta a ponta (ele tem menos de 40 minutos), percebe-se que o Radiohead constrói uma forte atmosfera ali. Julgar canções isoladamente não é o melhor caminho, pois há algo de complementar entre elas. Isso fica muito claro nas cinco primeiras faixas. Depois, a qualidade cai um pouco, com canções arrastadas.
Dos anos 2000 em diante, o Radiohead faz música pulsante. “Lotus Flower” é  exemplo disso, com seu clipe e a célebre dança de Thom Yorke. Ele parece estar em transe. O ouvinte de The King of Limbs fica na beira disso. Mesmo não sendo o melhor, o álbum é um indício de que a banda seguirá desenvolvendo o encontro entre rock alternativo, jazz e música eletrônica. Esta última que, para nosso alívio, é bem mais do que fazem os DJs fulano de tal dessas raves da vida.