terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Sem Título #3

Trabalho numa grande loja de eletrodomésticos. Então, sabe como é, né, sou atendente, tenho que ficar o dia todo conversando com as pessoas, sendo agradável e tal. E sempre é muito difícil. Tem gente demais no mundo! E pior, gente pobre! Caraca, como tem gente pobre comprando tv, dvd, celular, essas coisas. Essa facilidade que a loja dá, divide em muitas vezes, meses e meses pagando uma miséria. Aí, chove pobre interessado.
O pior é que a maioria só vem, entra, fica olhando, perguntando, te aluga por meia hora e vai embora. E não compra, me desculpa a palavra, porra nenhuma! Todo dia tem uns dez desses. Sem contar que eles vêm, com aquelas roupinhas de feirante, aquelas conversinhas sem graças, sem falar nos que já entram comendo! Odeio comprador que vem comendo porcarias na minha frente, ali é um ambiente de negociação, custa ser ao menos um pouquinho formal?
Aí, não bastasse fazer isso por nove horas pra ganhar uma mixaria, ainda tem a volta pra casa. Horário de pico, ponto de ônibus lotado. Quando o coletivo aparece, é como se soltasse notas de 100 reais, o povo apronta uma correria, parece que é a vida deles que está em jogo. Aí você entra, fica apertado, em pé, e pra quê? Agüentar mais conversa de pobre, ou então pobre escutando aquelas músicas horrorosas no celular, ou, mesmo que quieto, pobre espalhando aqueles perfumes de quinta. É brincadeira eu ter que passar por isso, viu. Fico ali, com meu fone de ouvido, fingindo que morri, é um tempo que demora tanto a passar que às vezes parece mesmo que eu morri e estou no inferno.
Mas eu quero sair dessa vida. Não dá. Mandei meu currículo para umas lojas aí, essas de shopping, sabe, coisa mais chique. Trabalhar em lugar com ar condicionado, cliente selecionado, eu mereço. Né, Deus, por favor...