Chegando na Paulista,
encontramos nossa primeira entrevistada, que exemplifica quão eclético é o
movimento. Dona Ivone, 72 anos, longos cabelos brancos e uma energia para dar
inveja em muito jovem. Ela leva apito na boca, bandeira do Brasil amarrada no pescoço
e cartaz com os dizeres “Aqui é Brasil – e não Venezuela!”. Muito simpática
mas, talvez por problemas de audição, não escutou nossas perguntas. Ao lado
dela, Marlene, 31, sua cuidadora, nos disse que Dona Ivone é muito ativa e
interessada em política, lê jornais e revistas diariamente. Porém, ela nos
conta, às vezes a idosa acorda angustiada, dizendo que há uma eminente “invasão
bolivariana”. “Mas depois dos remedinhos ela se acalma”, conta Marlene.
Também representando a
ala mais antiga da manifestação, encontramos Sr. Odilon, 66, militar reformado,
que levou os netos Pedro (10) e Giulia (8) para o ato. “É importante eles
vivenciarem isso, é o exercício da democracia. Estou adorando o ambiente do protesto,
tudo em paz, só gente de bem”. Perguntado sobre os cartazes pedindo intervenção
militar, Odilon sorriu: “Não estou mais ativo, mas vou conversar com os colegas
do clube. Talvez seja hora de fazermos algo”.
Ainda assim, a maioria
dos manifestantes deste domingo era jovem. Ricardo, 23, que com um megafone
gritava palavras como “pela ordem”, “fora corruptos” e “chupa Dilma”, era um
dos mais empolgados. Criador da página de Facebook “Revolução Verdeamarela”,
Ricardo nos falou de seus planos: “A página tem cerca de 15 mil curtidas. A
expectativa é dobrar esse número com a manifestação e continuar crescendo.
Quero instruir as pessoas, agregar a força do povo contra essa corja que nos
governa”. Ricardo é um dos ativistas dessa nova geração que tem nas redes
sociais seu principal meio de atuação. No caso dele, a internet também ajuda na
renda. “Tenho um canal de vídeos no YouTube, faço diversos tutoriais e ganho
dinheiro com os acessos.” Diversos mesmo. No canal de Ricardo ele ensina
internautas a abrir compotas (o mais popular), dar golpes de jiu jitsu e
formatar o computador. Mas ele tem na ponta da língua qual é tutorial dos seus
sonhos: “ensinar como tirar esses corruptos do PT do poder!”. E colocar quem,
Ricardo? “Os não corruptos”, respondeu ele, num exemplo de lógica complexa.
Como o tema é internet,
encontramos há alguns metros dali, Deborah Albuquerque, que fez sucesso com um
vídeo postado após as eleições de 2014, no qual ela expôs sua frustração e
prometeu se mudar para Miami. Não mudou. “Não consigo desistir do Brasil, devo
ser mulher de malandro”. Em sua camisa, uma piada: a frase “Também quero minha
bolsa, Dilma” e a foto de uma Louis
Vuitton. “É uma brincadeira, eu mesmo compro minha bolsa, se o governo não
roubar”, diz, gargalhando. O bom humor talvez se dê pela viagem programada para
a próxima semana. “Vou para Fernando de Noronha. O Brasil é lindo, só não podem
acabar com ele”. Deborah compra bolsas com o dinheiro da mineradora da família.
Fabio, um jovem
advogado, também estava por ali, clamando contra políticas assistenciais. “Esse
desgoverno perverteu os princípios básicos da sociedade. Não temos mais
valores, hoje não trabalhar é melhor do que suar para ganhar seu sustento.
Minha família é humilde e nem por isso nos acomodamos. Aproveitei minhas
oportunidades e hoje ganho um dinheiro bom, embora tenha que pagar tantos
impostos para essas bolsas esmolas e para manter a corrupção”. Beneficiário do
FIES, ele se zangou quando perguntamos o preço que pagou em sua camisa Nike da
seleção brasileira. “Meu dinheiro eu consigo com meu mérito e gasto como eu
quiser”. Ao lado dele passou Cleiton, um catador de latinhas com a mesma faixa
de idade de Fábio. Tentamos saber o que ele achava das ideias de Fábio sobre
mérito, mas Cleiton respondeu apressadamente: “não posso, tô trabalhando”.
Valdir, 52 anos, também foi
para a Paulista trabalhar. Vendedor de cerveja, ele não declarou posicionamento
político: “não sou contra Dilma, votei nela. Mas também não sou a favor. Veja
só, estou vendendo o latão da Brahma a cinco reais e o pessoal tá comprando
bastante. É isso que me importa agora”. Analice, 47, esposa de Valdir, também
estava por ali, vendendo salgados. Perguntada sobre qual guloseima vendia mais,
ela respondeu sem hesitar: “coxinhas”.