sábado, 13 de fevereiro de 2010

Coming Up Roses

Janeiro jaz em paz e fevereiro arranca para sua segunda metade. Esses meses costumavam ter toda uma mística quando eu estava na escola ou no colégio. Ansiava por eles como por um oásis que desse sentido à longa jornada pelo deserto. Sentido, eterna busca. Porque, por mais semi nerd que eu fosse, estudar nunca foi algo libertário. Sim, tem leituras que nos libertam de algo que sequer sabemos o que é, mas elas não surgem na forma de estudo. E este nunca foi algo que habitasse meus sonhos.
As férias significavam libertação. Estudar, uma obrigação da qual eu, assim como todos da minha idade, queria me livrar. Cada ano passado era um ano a menos a ser estudado. Até que chegaria um dia em que não haveria nenhum dark sarcasm in the classroom a nos aterrorizar.
Entretanto, minhas férias nunca foram excepcionais. A palavra janeiro me traz lembranças de minguadas viagens, a ressaca dos presentes do Natal, o encontro de algum conforto do calor sul mineiro na imbatível piscina de mil litros, a ausência de futebol na tv... As férias não eram de todo mal, mas não havia aquela diversão esperada.
E, a bem da verdade, a espera pela festa é mesmo a sua melhor parte. Porque a celebração, em si, sempre deixa a desejar. Passaram-se uma porção de anos e não me libertei dos estudos, pelo contrário, o projeto por longa data em minha vida. Sem me sentir oprimido.
Minhas férias de 2010 certamente entediariam o menino que se virava em janeiro com partidas da Copa São Paulo de Futebol Jr. na falta de opção. Mas elas me satisfizeram. Assisti algumas boas séries televisivas, fiquei por semanas encostado sem poder andar, porém me livrei de uma mazela hereditária, chacoalhei a cabeça com o Metallica e, talvez o melhor, vi que dá para viver em família em um apartamento da MRV. Pode não ser o mais exuberante dos oásis. Mas me contento com sua água fresca.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Flashes na Escuridão - Capítulo 5

5
Tuco estava de fora na sinuca. Resolveu, então, sair do bar, enquanto Alemão e Nenê enfrentavam Chicão e Cabeça. O bom da sinuca era jogar, não ficar assistindo. Lá fora, Tuco levou seu copo de cerveja e ficou observando a noite. Uma ex namorada havia dito que a favela era bonita à noite, com suas luzes desordenadas simulando um céu estrelado. “Céu estrelado! Porra nenhuma! Que céu tinha cheiro de cachorro vira-lata, poeira e cimento?” Agora, tinha certeza de como era descabido aquele comentário. Também, ele vinha da Nina. Moça bonita, bem nascida, estudante de ciências sociais. Queria estudar a sociabilidade dos excluídos, participava de projetos sociais e, então, chegou no ponto de namorar um favelado. Foi o Tuco. Achava tudo lá bonito, o samba e o funk, as pipas, as conversas pelas ladeiras, as gírias... Ela já estava planejando ir morar no morro, tinha até pesquisado aluguel, mas o namoro acabou. Para a felicidade dos seus pais, que abominavam as decisões impulsivas da filha.
Tuco gostava mesmo era de ver o bairro lá de baixo. Aqueles prédios imensos, ordenadinhos, com janelas tão grandes e sacadas com plantas. As coberturas, movimentadas nos churrascos de sábado, as quadras e piscinas com aquelas crianças limpinhas, quando não estavam com seus uniformes brancos e passados para ir à aula. Aquilo é que o encantava, ver aquelas fileiras de luzes, empilhadas e alinhadas.
Enquanto pensava, esvaziando seu copo, aquilo que comparava desapareceu. Nem na favela, nem no bairro nobre, as únicas luzes que sobraram eram as do céu. No bar, seus amigos praguejavam, já que o jogo estava interrompido. Tuco entrou e ajudou o Seu Gilson a procurava velas. Logo o bar estava iluminado novamente, naquele tom amarelo desbotado das chamas, e a sinuca pode continuar. Havia apostas, o jogo não podia parar.
Não sem algum bate-boca e reclamações, a partida terminou uns dez minutos depois. Os amigos não iam jogar outra vez. O apagão já durava algum tempo, então, em alguns cochichos, eles combinaram o que iriam fazer. Havia uma cidade lá, desprevenida, esperando que eles atacassem. Na manhã seguinte, uma nota no jornal anunciaria o arrastão, enquanto eles estariam contabilizando o saldo do saque. Era assim que as coisas eram.
Porém, naquela ação, algo se inverteu. Tuco, que admirava, lá de cima, aquele mundo ordenado dos grandes prédios, agora o tinha a seus pés. Por um breve momento, ele se fazia senhor naquela parte da cidade em que não era desejado. Agora, ele tinha poder por lá. No escuro.