quinta-feira, 8 de abril de 2010

Ouvindo o dia

São 10:10 e eu resolvo ouvir o dia. Nenhum outro sentido, vou experimentar o mundo através audição. A primeira sensação é a de que o silêncio é uma falácia. Impera um ruído constante, como se a Terra fosse uma grande casa de máquinas. Motores de automóveis por todos os lados, em muitos tons. Freadas agudas de carros, buzinasquase uma barriga fazendo digestão.
Então, vêm os sons das construções. Coisas sendo marteladas, furadas, partidas. O metal afiado gira e racha ao meio a madeira. A cidade está em transformação e constante são seus sons.
Dos céus, outro motor surge: algum helicóptero risca morosamente o céu, para se certificar que tudo aqui em baixo segue na mesma.
Barulheira.
Pra variar, algo de bucólico. Parcos pios de pássaros, muitos enjaulados, salpicam algo não mecânico nisso. E ouço o bater das asas de alguma pomba folgada perto de minha janela. Até parece que estou no campo...
Pfffff.
Novamente, ruídos metálicos. Algum vizinho bate panelas, gavetas com talheres, liga a torneira. É a magia de fazer o almoço. Uma tv ligada, possivelmente em algum programa em que se debata como cuidar dos filhos problemáticos ou a vida das celebridades do último Big Brother.
Alguém esta chutando uma garrafa na rua.
Isso tudo acontecendo junto, e se repetindo, repetindo de novo, mais alto...
Ok. Mundo experimentado. Mas agora, acho que vou escutar alguma música no fone de ouvido. Barulho por barulho, é mais fácil estudar com um que seja tonal.

2 comentários:

  1. já viu "Sobre Café e Cigarros"? Jim Jarmusch?
    Tem todo aquele papo dos White Stripes sobre Nicola Tesla - o planeta é uma grande caixa de ressonância acústica e tal...

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