domingo, 1 de agosto de 2010

“A morte” ou “Ela vem, cheia de amor pra dar”

“Ó Morte, velho capitão, está na hora!levantemos âncora!
Este país nos entedia, ó Morte! Embarquemos!” (Baudelaire)

É uma manhã normal, você está deitado, num sono tempestuoso de ressaca da noite anterior e o domingo promete ser arrastado como outro qualquer. Só que do seu quarto dá para ouvir o choro de sua tia e sua mãe e você entende: desta vez, a morte resolveu visitar sua família. Ela pode até demorar, mas ela comparece. Sempre.
E por mais contraditório que seja, já que convivemos com a morte desde quando matamos nossos primeiros pets com nossa “ternura excessiva estilo Felícia”, jamais estaremos preparados para a morte. Mesmo que a realidade de que todos nossos entes queridos são passíveis de zarpar desse plano, a teoria e a prática, pra variar, não se encontram. Imaginar perder algumas pessoas, só imaginar, já deixa alguns com lágrimas nos olhos. Preparação para a nossa morte, então, nem se fala. Lidar com a efemeridade da nossa vida é bem complicado.
Mas a morte é uma realidade. E democrática. Atende a todos, às mais diversas classes sociais (embora alguns ricaços tentem tapeá-la deixando-se congelar na esperança de serem revividos em um futuro distante), tendências políticas, índoles... Se você é ruim, morre. Se for bom, morre também. Além disso, a morte também é democrática nas diversas formas em que aparece. Desde casos trágicos de acidentes, assassinatos ou doenças, até em episódios cômicos (dependendo do humor de quem observa), como no célebre caso do mergulhador que morreu em um incêndio, pois foi pego por um helicóptero que levava água do mar para apagar o fogo.
Talvez a grande dificuldade de nossa parte seja entender que vida e morte são entidades ligadas, praticamente uma coisa só. Só morremos porque, antes, vivemos. Se mudamos o ponto de vista, podemos dizer que a vida é só o caminho que leva até a morte. Recentemente, dois óbitos ocuparam espaço na mídia. Eliza Samúdio, supostamente assassinada a mando do goleiro Bruno, teve a interrupção de sua existência em decorrência do tipo de ganha-pão que escolheu: pensão milionária ao se envolver com gente rica, não necessariamente boa. Já o filho da Cissa Guimarães, atropelado andando de skate em um túnel, morreu ao praticar um esporte que, essencialmente, é urbano – ou seja, oriundo de um ambiente de colisões quase naturais. Não deixa de existir certa linearidade da vida com a morte.
Às mortes supracitadas, prefiro a do meu tio, aquela anunciada no princípio do texto. Morreu dormindo, do coração, depois de passar um dia na roça, voltar para casa, comer uma carne e tomar uma pinguinha. Uma morte serena. Porque, com alarde ou não, no fim das contas, toda existência é efêmera, mesmo.

2 comentários:

  1. "A Viagem" do Baudelaire. Eu adoro esse poema!

    Caro Luriel, preparo nesses dias um texto para uma exposição de um amigo meu. E o assunto "morte e vida: lineares" tem sido bem o centro de tudo.
    Foi uma jogada de coincidências entrar aqui hoje. E é claro, sempre bom. Mas o texto mudou. Acho que a é a dimensão do imediato.

    Bons dias para você aí.

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