segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Uma ressurreição para o MC Lobo Mau

MC Lobo Mau havia se surpreendido com o convite. Há anos no ostracismo de “ex semifamoso”, já perdera o nome artístico e atendia apenas pela alcunha que seus pais haviam escolhido, Claudinei. Ou Nei, mesmo. Os tempos em que despontou da periferia carioca para todo o território nacional com o hit “O Lobo Mau quer comer a Chapeuzinho” eram um pretérito bem perfeito.
Porém, estaria por vir uma ressurreição? Existia uma esperança. Nos últimos meses, alguns companheiros do movimento funk estavam sendo recuperados por promotores de bailes. Surgia uma onda retrô. Lobo Mau, nessa expectativa, teve uma grata surpresa quando um programa de tv o convidou para um número ao vivo. Transmissão para todo o Brasil, num canal que, se não era dos grandes, ao menos era um médio bem sucedido. Tudo para ser um trampolim para uma volta triunfal.
No camarim, alguma apreensão. Há três anos contados não se apresentava em público. Os versos e os passos da dança permaneciam bem vivos em sua memória, não os esqueceria jamais. O corpo, em contrapartida, era um problema. Claudinei engordara cerca de 15 quilos desde seu período áureo e a voz, que nunca fora grandiosa, estava ainda mais desgastada. A ansiedade ele controlava com generosos goles de uísque, costume construído quando seu hit o fazia faturar mais do que sonhara. Só que, na medida em que a fama foi se esvaindo, o uísque se tornava menos envelhecido, menos escocês. Só o consumo, porém, continuava a fartas doses.
Ia dar certo, ele sabia. E como esperava por isso! Desde que os shows escacearam, Claudinei virara empresário, administrava um bar e uma mercearia em sua comunidade. Mas odiava aquilo. Fazer contas era insuportável. Era feliz quando podia deixar R$50,00 para as garçonetes que o atendiam bem. Agora, pechinchava até no salário dos seus funcionários. Não era a vida que queria.
Então, a apresentadora anunciou e o MC Lobo Mau veio ao palco. Cantou e dançou seu grande sucesso com tudo o que tinha. O público o acompanhava. Quando a música acabasse, pediria para cantar uma música inédita, versos em que vinha trabalhando recentemente. Lobo Mau sonhava alto, já planejava um novo cd. Ressurgir.
O programa de tv, entretanto, tinha outros planos. Depois de executar “O Lobo Mau quer comer a Chapeuzinho”, a apresentadora chamou outra convidada ao palco. Um rosto bem conhecido por Claudinei. Não só o rosto. A grande atração do programa não era nenhum funk recuperado, mas a acusação de paternidade não reconhecida. Nada de batidão, o que se ouviria na próxima hora eram ataques morais. E, acuado, o Lobo Mau percebeu que seria preciso mais do que dentes grandes para recuperar seu papel nesse conto de fadas. Com mais uma boca para alimentar, começaria a trabalhar mais cedo.

2 comentários:

  1. adorei.
    aposto que você se inspirou vendo o vídeo do mc avassalador.

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  2. E o Lobo Mau realmente comeu a Chapeuzinho... (depois de tantas piadas infames com a Elisa Samúdio, eu não podia deixar escapar essa).

    AMEI! Intocável, impecável. O tema, o texto, tudo.

    Que orgulho de você!

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