quinta-feira, 24 de março de 2011

Projeto "Pagode em Prosa" #1

Lá estava Claudinei, no bar de sempre, sentado no balcão, flertando com uma loira. Ela vestia uma blusinha apertada e uma saia esvoaçante. Pernas espetaculares e seios fartos. Flertar com alguma mulher era algo que Claudinei sempre fazia. Elas é que raramente flertavam de volta.
Só que, naquela sexta, o mundo deveria estar mais errado que normal. A loira, não fazia gestos irritados para ele. Nem beijava alguém para despistá-lo. Não. Por incrível que pareça, como nunca antes naquele bar, a mulher dava mostras de estar gostando. Até sorria para ele. Então, Claudinei foi para o ataque. Fazer história.
Na terceira música que dançaram juntos, depois de dizer que se chamava Ruth e era secretária, a loira foi direta:
__ Você é pedreiro, então? Estou com um problema no meu encanamento. Sei que não é seu trabalho, mas, não quer ir visitar meu apê e dar uma olhada nisso para mim? Amanhã?
Claudinei, sem reação, gaguejando, tentou dissimular sua surpresa em ser convidado para a casa de uma mulher. Tentou ser discreto:
__ De... demorô!
Parecia sonho. A loira deu seu telefone, explicou onde morava e foi embora. A situação já o fazia delirar. Ao que tudo indicava, venceria a “seca” que já durava um bom tempo e com a mulher mais espetacular que ele vira naquele bar. Quiçá ao vivo. Já estava apaixonado.
E, no sábado, ele cancelou um churrasco em que iria e foi para o prédio de Ruth. Um bom bairro. Levou também suas ferramentas, pois, vai que tinha mesmo algum encanamento para arrumar?
De fatp. Ruth deixou-o na cozinha, ocupado com uma pia que parecia ter todos os entulhos do mundo. Ela ficou na sala, assistindo tevê. Às vezes, passava para o quarto, e Claudinei ficava perdido em suas pernas, seu gingado, seu short curto. Ficava aceso. Ela lhe trazia água, dava alguns sorrisos...
Serviço terminado, a tarde já quase indo embora, Ruth convidou Claudinei para ir à sala. Ofereceu-lhe whisky:
__ Nossa, cansado como estou, vou capotar aqui se tomar isso.
__ Não tem problema, tem espaço na minha cama para nós dois...
Pronto, era a deixa que ele queria. A bebida desceu gelada, mas a companhia da moça o esquentava. E uma coisa leva à outra. Foram para o quarto e, enquanto se beijavam, Claudinei pensava na injustiça que era não poder tirar uma foto dela assim, sua, e mostrar para a turma o mulherão que estava pegando.
Até que, Ruth tomou a iniciativa e se despiu. E, em seu corpo feminino, algo estranho o encarara. Um órgão que, definitivamente, ele não esperava encontrar ali. Claudinei foi recuando, assustado, sem saber o que fazer. Os segundos mais longos de sua vida. Ruth deu uma risada e logo apareceram algumas pessoas com câmeras e microfones. Ele havia caído numa pegadinha bem obscena. Queriam gravar seu rosto de espanto diante “daquilo”. Conseguiram. Se ele queria que os amigos o vissem com a loira, seu desejo estava atendido.
Desiludido, só restou a Claudinei voltar para casa. Tinha pensado que viveria uma história de amor. Mas era cilada.
(Canção homenageada: Molejo - "Cilada")

4 comentários:

  1. Adorei o texto, o final pega a gente de surpresa. Super bem escrito...

    Beijos!
    Taty!

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  2. hahahahahahahahahahahahahahahahhahahahahaha

    muito foda!!!!

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  3. Muito bom Sô Luís! Rolando de rir aqui! Era cilada, cilada, cilada!

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  4. Poxa, muito bom. Muito bem escrito, prende realmente, e é inesperado.

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