sexta-feira, 8 de abril de 2011

Projeto "Pagode em Prosa" #3

Luiz Carlos sabia que seu trabalho era, possivelmente, um dos mais chatos do mundo. Fazia clipping. Uma formação em jornalismo, discussões e discussões sobre as novas mídias e as interações contemporâneas, em salas de aula e corredores universitários, para ficar ali, selecionando notícias. Fazendo recortes para clientes. Não era seu sonho de consumo. Ao menos, havia algumas vantagens. Como estar on line no Messenger o dia todo e responder a seus emails assim que os recebesse. Afinal, seu chefe, mesmo que quisesse, não era onipresente. Porém, naquela terça, ele viu em sua caixa de mensagens o nome de Lídia. Ficou temeroso. Luiz Carlos, Há quanto tempo, ein? A caixa postal do seu celular deve estar com problemas, não te dá os recados das ligações que faço. Mas acho que internet você utiliza, pois vejo suas atualizações no Facebook... Olha, Luiz Carlos, vou ser direta. Estou te escrevendo para ser sincera. Quero dizer que eu lamento, e lamento muito. Me entristece pensar que tudo que nós vivemos não significou nada para você. Que aquela relação maravilhosa que a gente teve, tudo que sonhamos juntos, no fim das contas, não foi mais valiosa que seu egoísmo. Pois você é isso, um egoísta. Quer ser um garoto para sempre, não ter compromisso com ninguém e com nada? Também me culpo. Por ter sido tão besta e me iludido. Achei que a paixão, aquela loucura toda que vivemos, significaria algo para você. Ainda não entendo. Foi tão fácil esquecer aqueles dias inteiros que passamos juntos, trancados em casa, sem dar a mínima para o resto mundo? Os momentos que vivemos, nossas viagens... Hoje vejo nossas fotos e quase choro por lembrar que você, do nada jogou tudo fora. Mas eu sei que você não está bem. Eu te dava alegria, te completava. Juntos éramos fortes, mas separados, você é só você, não é nada. Porque eu, Luiz Carlos, agora estou namorando, tenho um outro amor. Alguém que me valoriza e com quem, eu tenho certeza, serei feliz. Já você, achou que estava sendo o maioral ao terminar comigo? Foi você quem me perdeu. Pena pra você. Apesar de tudo, Luiz Carlos, eu não tenho ódio de você. Esse é um sentimento muito pequeno para mim. E você não merece que eu me rebaixe. Não te quero mal, nem bem. Tenho indiferença. É isso que eu precisava dizer. Passe bem, Lídia Luiz Carlos leu. E releu. E quase riu. Mas não, a notícia não era boa. Ele adoraria acreditar que o relacionamento mencioado no email significasse que enfim terminariam os telefonemas mudos que recebia. Que a sensação de ser perseguido pelas ruas acabaria. Que seus amigos não mais seriam interrogados a respeito de sua vida. Mas não. Um email daqueles, enviado às 3:46h de uma madrugada de segunda para terça, falava por si mesmo.


Canção homenageada:

3 comentários:

  1. Ah, a velha linguinha presa do Luiz Carlos... rs! Essa música é bem aquela da Joana, fatídica: "Tô fazendo falta..."

    Beijo!

    ResponderExcluir
  2. Bela canção, belo texto sobre desencontros amorosos. Numa boa... o melhor é que não dá pra ver Youtube no trabalho. E aí eu fico na maior divagação sobre quais devem ser as músicas.
    Abração!!

    ResponderExcluir
  3. P.S Já que a coisa chegou no Raça Negra, que tal fazer um pro Benito di Paula???

    ResponderExcluir