Nas próximas semanas, por tempo indeterminado, nas terças-feiras teremos reviews musicais nesse espaço. Essa "seção" também muda de nome, agora é "Discografia Comentada", não mais "Recomendada". As atualizações literárias continuarão. Sejamos perseverantes.
Nas últimas semanas muito se tem falado em Perry Farrell, embora não pelo motivo mais adequado. O fundador/ organizador do Lollapalooza esteve na mídia brasileira por conta da versão tupiniquim de seu festival, no ano que vem, e do debate com Lobão (aquele que sobrevive de polêmicas há duas décadas). Melhor seriam que falassem de Farrell por causa do lançamento de The Great Escape Artist, lançado há poucas semanas.
O Jane’s Addiction é referência básica para quem tem algum interesse na história do rock. Essa banda californiana é parte da retomada do estilo que ocorreu na virada dos anos 1980 para a década seguinte. Embora alguns desavisados digam que o Nirvana fez a revolução sozinho, é preciso lembrar: as grandes gravadoras, que nunca foram bobas, já investiam em bandas alternativas. Antes de Nevermind (1991), Soundgarden, Red Hot Chilli Peppers, Sonic Youth e Jane’s Addiction, entre outras, já tinham contratos.
Em seus dois primeiros álbuns, o Jane’s Addiction soava explosivo. Músicas que iam da aceleração de um rock ancestral, à outras, com grandes viagens atmosféricas. De Nothing’s Shocking (1988), você pode conferir “Mountain Song” aqui. Já Ritual de lo Habitual (1990) continha o hit “Been Caught Steeling” e a não menos boa “Three Days”. “Aquilo sim era rock, bebê”, disse Christiane Torlone para o blog. Mentira. A reportagem não conseguiu entrar em contato com a atriz.
As performances do grupo estavam à altura da música. Perry Farrell, um exótico pansexual, é bastante desinibido no palco, assim como o guitarrista Dave Navarro, poser como só ele. Tanta personalidade, claro, deu problema: depois dessa primeira fase promissora, o grupo se desintegrou, os músicos seguiram suas carreiras e, de vez em quando, se reúnem.
Em The Great Escape Artist, a banda não soa com a mesma pegada. Também, pudera, os músicos já não são os jovens de antes. Não que se tenha que soar velho após os quarenta anos, mas também não precisa fingir-se de garotão – foi mal, Dinho Ouro Preto. A sonoridade também ficou mais limpa, coisa da tecnologia, que não para.
Mesmo assim, o Jane’s Addiction de outrora ainda pode ser reconhecido nos riffs de guitarra e nas boas melodias. Soa moderno, é verdade, mas com a identidade original. Indicado para uma época em que o rock, novamente, está ficando andrógeno. E quando os roqueiros estão visualmente parecidos com personagens de animes, sinal de alerta!
The Great Escape Artist é um cd que a gente escuta sem querer pular as faixas – o que indica uma banda honesta. Desconfie smpre daquelas que apresentam pérolas envoltas por material de má qualidade.
Se ficou curioso, dê uma conferida na música de trabalho, “Irresistible Force” aqui.
O texto é bom - ainda mais porque não fala o tempo todo do disco. Não pude ouvir ainda, Jane's Addicition nunca foi meu foco. Obrigado por fazer esse favor aos ecléticos-vazios que rondam por aí: música precisa de atenção e toda obra de um escrito, uma crítica. Aquele abraço! Gostaria de marcar uma audição com você desse disco. Seria genial discutir "in loco".
ResponderExcluir