terça-feira, 1 de junho de 2010

Futebol, entre ranzinzas e a alma humana

Vem chegando uma nova Copa do Mundo de futebol e não dá para se ignorar essa data. Afinal, ela é prato cheio para os ranzinzas de plantão, destilando pragas contra o futebol e todo o teatro que se faz ao seu redor.
E não dá para tirar um pouco da razão desses indignados: os noticiários se esvaziam de outros temas; a combinação verde amarelo deixa de ser cafona; “a galera toda” se encontra para ver os jogos do selecionado brasileiro, o que provoca uma aglomeração grotesca de torcedores que só querem um motivo pra reafirmar sua vida burguesa, ou desejo disto...
Apesar disso tudo, inda acho perde quem se deixa dominar pelo mal humor e não se diverte com a Copa. Poxa, como o futebol pode ser divertido! E falo até de uma diversão intelectual, para aqueles que gostam de “observar a alma humana”. Albert Camus já dizia que muito daquilo que ele aprendeu sobre os homens foi nos seus tempos de futebolista. Realmente, o esporte é uma janela privilegiada. Ali, temos indivíduos doando-se por uma paixão (a nacional, por exemplo), colocando à prova sua capacidade de realizar seus objetivos, testando seus limites físicos... E escancarando o quão humanos eles são.
Me vem à mente a final da Copa de 2006. Zidane, líder da França, conhecido por jogar com classe e inteligência, agride um adversário que ofendeu a honra de sua irmã. Não uma agressão qualquer, uma violenta cabeçada no peito. Ou seja, até os gênios perdem a cabeça. (e os escritores medianos não perdem os trocadilhos infames...)
Nelson Rodrigues dizia que “em futebol, o pior cego é o que só vê a bola... Se o jogo fosse só bola, está certo. Mas há o ser humano por trás da bola, e digo mais: - a bola é um reles, um ínfimo, um ridículo detalhe. O que procuramos no futebol é o drama, é a tragédia, é o horror, é a compaixão.” Pena daqueles que preferem repetir o clichê de que “são apenas 22 homens correndo atrás da bola”. Eles perdem uma bela diversão.

3 comentários:

  1. Ok... não sou dos ranzinzas nem dos fanáticos. Vejo os jogos, mas sempre com alguma noção moderada. Nada de percepção filosófica. Nem Camus. O futebol... o começo do Absurdo?

    Bem... eu gosto de pensar no esforço físico. "Os caras correndo atrás da bola" conseguem realizar imagens muito interessantes. Puta dor mesmo. E prazer.

    Mas esse ano não vai dar Brasil. Ou vai?

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  2. Eventos como a copa são tão ricos, apresentam tantas possibilidades de pontos de vista, análises econômicas, políticas, sociológicas, psicológicas, e, se a gente for até o extremo, arqueológicas, antropológicas e mesmo religiosas. O comercial que a FIFA fez com o Bono para a copa da África do Sul 2010 foi genial, apontando para a ritualística do corte temporal do "um mês a cada quatro anos". Assisti pela primeira vez no ilp, que é o pay-per-view de NBA pela internet. Era um jogo do basquete profissional americano, sendo exibido em rede nacional. Passou várias vezes, por vários dias. Fui olhar o site da espn dos Estados Unidos para a copa e gostei de ver que eles estão dando mais destaque ao maior evento esportivo do planeta, em termos de uma única modalidade.

    O link para o comercial da FIFA no youtube é:
    http://www.youtube.com/watch?v=BygYdS9jfGA

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  3. Gostei das citações! :-) Embora os jogos sejam desculpas para eu gastar meus palavrões à vontade, também acho que a bola é só um detalhe, o futebol vai além. O futebol é meio uma ópera bufa, uma tragicomédia - o lado da palavra a ser preponderante depende do lado do gol a ser preenchido. Mas nem sempre. De qualquer modo, boa Copa para nós (adoradores desse esporte estranho).
    Bju!

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