sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Canário Rei

Eram seis da tarde, mas a sensação térmica era de, pelo menos, três horas a menos. Pela janela, raios de sol acertavam pai e filho, deixando seus rostos brilhantes. Suor que escorria em gotas. O lanche estava na mesa e os dois não comiam com muita vontade. Faltava disposição. Nem os bravos são felizes no calor.

- Quando a mamãe chega?
- Mais tarde, filho. Hoje ela tem reunião.

O menino ainda vestia o uniforme escolar. Brincava soprando o achocolatado com o canudo. E o pai observava. Deveria repreendê-lo por brincar com a bebida, é o que sua mulher faria. Mas estava olhando para seus pés. Agora eles já tocavam no chão, apesar de estar sentado numa cadeira normal. Seu garoto crescera.

- Você tem lição de casa?
- Tenho. Mas é pouquinho.

Então, eles ouviram um canto. A televisão estava ligada, dezenas de automóveis roncavam com seus motores pela rua e, acima deles, havia um canto. E os dois se olharam:

- Vamos lá ver?

Foram. O canário estava perto, podiam escutá-lo muito bem. Estava na casa do vizinho, sobre a antena de TV paga. O fim de tarde sorria para eles, um singelo sorriso amarelo e de cabeça laranja. No mormaço da cidade, o passarinho, do alto, era rei.

Pai e filho ficaram felizes ao ver sua majestade. E o menino preparou a estilingada.

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