quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Luto, Brazil

Mal deu conta de si naquela manhã e a dor já latejava em seu peito. Um aperto tão grande que, se fosse físico, seria mais fácil de lidar. Ligaria para um médico, tomaria algum remédio e estaria curada. Mas não, aquela dor era coisa que transcendia o corpo. Apertava seu ser.

Viu, ainda na cama, a maquiagem não retirada da noite anterior borrada no travesseiro, sujando os lençóis. Cortesia das lágrimas, cascatas da noite de agonia. Então, Deborah pensou em seus olhos, que deveriam estar inchados como nunca antes.

Curiosa, levantou e foi até o espelho. No caminho, desviou da camisa da seleção brasileira, arremessada contra a parede num acesso de raiva. No espelho, seus cabelos permaneciam deslumbrantemente loiros, mas as olheiras, de fato, denunciavam o choro. Seu rosto refletia a tragédia.


Deborah olhou para as unhas, pintadas de azul e amarelo. O ódio voltou e ela pensou em pintá-las, agora, com esmalte negro. Estava de luto. Por isso resolveu fazer um vídeo, anunciar sua frustração com o resultado das eleições. E, tal como no término com o ex-namorado ou quando o seu cachorrinho morreu, ela escolheu lidar com a situação da forma mais madura da qual era capaz: declarar que se mudaria para Miami.

Nenhum comentário:

Postar um comentário